Cantigas

segunda-feira, 7 de julho de 2008

São João Batista


Quando ele adentrou na minha casa, era tarde num dia de sol e ele mostrou logo que veio para ficar.

Foi para seu quarto, que é o seu palácio real - não poderia ser menos para sua realeza - e lá está até hoje.

Sua imponência combina com seu silêncio a maior parte do tempo. Sua voz grave, que no céu ressoa, me parece a voz do pai que tenho agora, lá em casa, no seu quarto real.

Este homem que me chegou sem que eu mesmo tivesse pedido me ensinou e ensina todos os dias - em seu silêncio de Rei - que sua vinda anunciava outras.

Chegou na bruma leve das paixões de Alceu, no terceiro que também chegou e ficou por tanto tempo em minha vida, como também anunciou Chico, e que nem daria mais para sair. Aquele é um outro rei, bíblico, daqueles que desafiaram Golias. O meu rei de outra seara.

Este Rei primeiro trouxe rainhas, guerreiros, homens de arco e flecha, mulheres de espada e espelhos. Suas esposas, mãe, pai, irmãs, amores nunca consumados...

Este homem, o rei primeiro, traveste-se, diverte-se com outros nomes - é cubano, africano, mestiço, baiano.
É um Rei de mim (e não é?)
É um homem que, da sua perfeita beleza de homem, é um dos belos de meu viver.

Este homem é meu pai também. E de seu fogo que compartilha com uma mulher que é a da minha vida, faz brotar terremotos que revolvem minha existência, me mostrando que nem todo fim é morte. Ele não a encara. Não é finado.

Este homem, sendo meu pai, avô de meus filhos do espírito (minhas letras, tão dele também), é o céu flamejante quando a água desce em torrentes máximas. Ele e elas a brilharem acima(e namorando) dos mares, nos lugares que também são de mim.

Este homem é a mim e eu sou dele, por que a sua chegada me trouxe a felicidade para o sempre, mesmo que a tristeza nunca tenha - para mim - um fim.

"Meu pai São João Batista é Xangô" e "se um dia me faltar a fé ao meu Senhor",

tem piedade de mim!

Carlos Barros.


24 de junho de 2008.

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