Cantigas

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Deus nos guarde dos ecos "celestiais"




Sobre uma teocracia em andamento no Brasil...

Como a discussão a respeito da União Civil homoafetiva prossegue com argumentações de ordem teocrática... 
Recentemente fui questionado a respeito de não ser "imparcial" no debate, o que me fez pensar sobre o assunto com mais afinco...
É notório que imparcialidade nesta dimensão existencial em que vivemos é pretensão dos que fingem não se posicionar. Clamemos por menos e desnecessários atos hipócritas.  

Desde a abolição do Positivismo enquanto referencial teórico (posto não atender às demandas da vida contemporânea), a imparcialidade não é reclamada para o exercício sociológico.

Não é demais lembrar aos navegantes que Max Weber propõe exatamente a Neutralidade Axiológica como uma ferramenta em que os valores do pesquisador constituem claramente o próprio objeto de pesquisa. Ele nos libertou da premissa durkheimiana do "afastamento das pré-noções". É só buscar as referências que trago aqui... 

Quanto à interpretação que faço (e se pode fazer) à luz do Nazi-Fascismo, vem de pesquisas lidas a respeito do tema na minha formação acadêmica em História e Ciências Sociais, além da minha experiência e interesse pessoal no assunto. 

As semelhanças com a mentalidade nazi-fascista são mais que observáveis; são, aliás, de uma obviedade constrangedora. 
Quanto à Bíblia (esteio reclamado para argumentações das mais diversas), exatamente por ser UM entre os relatos sagrados  , faz com que a defesa arvorada em nome dela se pareça justamente com os argumentos nazi-fascistas: seria a criação de Um Estado excludente de um grupo social a quem se creditam características repugnantes: como se fez sobretudo na Alemanha Nazista. 
Fiquemos todos mais atentos;
navegantes, náufragos e desorientados...

sábado, 6 de abril de 2013

Belas como elas



Daniela Mercury publicou o seu amor por outra mulher.

A ação bem que poderia ser simplesmente encarada como mais um “burburinho de celebridade”. Mas não é.
O contexto é de guerra. As opiniões são muitas e a vida pessoal continua sendo a vida pessoal, mesmo de uma artista e figura pública como é Daniela Mercury. Ao “assumir” – termo detestável posto que parece vindo de um tribunal de júri medieval – sua relação com outra mulher, a cantora não somente incorpora uma voz poderosa à questão, mas ainda de uma maneira pouco usual no Brasil. Nunca defendi o outing como única estratégia de luta política em torno desta questão – relevante e central para mim -, mas admito que dizer de sua experiência pessoal na homoafetividade é uma forma privilegiada de naturalizar socialmente a afetividade entre os seres humanos.

O que Daniela fez (e outras pessoas fazem na vida cotidiana, cada vez mais) foi afirmar o amor entre pessoas do mesmo sexo num país em que os representantes da população vêm querendo negar. Somos de uma nação em que o Judiciário precisou tomar a frente na discussão e decisão sobre as uniões estáveis e casamento civil entre este grupo de cidadãos, justamente por que o Legislativo – a quem caberia primordialmente esta tarefa – se eximiu por anos e anos e anos...

Vivemos num país em que as comissões que deveriam lutar pelos direitos das chamadas “minorias sociais” são presididas, alinhavadas e comandadas a partir de acordos políticos no mínimo duvidáveis. Não, não vou evocar o nome da figura central aqui... pode dar má sorte...
Não me esqueço que sou espiritualista, feito no Santo e batizado na Igreja Católica e palavras têm força! Xô!

Vivemos num mundo em que a normalidade é padrão requisitado com afinco. E a normalidade não insere diferenças; as marca como diferenças. O preto, a lésbica, a bicha, o nordestino, etc. Todos são marcadores de diferença, por que a normalidade já tem sua cara... e não é a destes agrupamentos. O Brasil continua sendo o país destas disparidades históricas: avanços e avanços em concomitância com atrasos e atrasos... como a França, a Inglaterra, os Estados Unidos...

Na questão da sexualidade, o mundo ainda tem dificuldade em lidar com a existência do amor, afeto, desejo, tesão, sexo entre pessoas da mesma genitália. Não sabemos ainda direito o que é gênero, e isso e inclui muitas vezes certa misoginia por parte do público gay masculino, a ojeriza manifestada por algumas mulheres lésbicas à presença do homem e daí, a categorização da homossexualidade em gavetas muito estanques, alimentada pelo preconceito de não gays e por estas atitudes identitárias que, equivocadamente, seriam compósitos de pertencimento. Ainda existem afirmações assim: “viado é concorrente de mulher”, ou “odeio homem”, por parte do coletivo homossexual, que são equivalentes semânticos de “bicha descarada... devia procurar uma  mulher...” ou “toda sapata ainda não foi bem comida por um homem retado”, do discurso corrente e comum entre setores ditos heterossexuais brasileiros. 

O problema do casamento gay e da convivência com pessoas manifestando seu afeto é exatamente a quebra destes paradigmas que estruturam o lugar de significado da homossexualidade nas mentes humanas. O arquétipo da família possível ainda não inclui este grupo. Mesmo que a família enquanto instituição possa ser questionada, o que está em jogo é o direito de poder escolher este ou outro modelo de co-relação existentes no planeta. E isso incomoda muita gente. Isso toca nas gavetas existenciais de muita gente. Isso é ação coletiva.

Daniela Mercury publicou sua relação com outra mulher. Tenho lido muitas pessoas afirmando que é uma atitude em busca de holofotes, que não se sentem legitimados pela artista e outras coisas que considero muito curiosas, somente para não dizer suspeitas...

Daniela Mercury é uma artista e ocupa uma posição de celebridade midiática. Sua publicação atinge o mundo neste nível de abrangência. Ela expôs sua vida pessoal numa realidade em que ainda há muitas pessoas que não suportam a simples carícia entre duas  mulheres ou dois homens. Deste modo, os mecanismos midiáticos são uma parte da questão, a relevância do que Daniela fez é outra. São aspectos complementares e contraditórios muitas vezes, como o são muitas outras coisas... Alguns militantes sociais de áreas diversas estão colocando tudo sob o manto da publicidade vazia... Pois sim! Me veio à cabeça esta questão: quando um(A) NEGRO (A) famoso aparece na capa da Revista Raça, não foi ele o único responsável por toda a luta negra, não é? No entanto vejo, ouço, sinto na pele e na alma como isso é celebrado pela comunidade negra, sobretudo baiana... Fico me perguntando os pesos e medidas das questões e a pertinência ou não dos argumentos. 

Há- e é claro - utilizações mil da afirmação de sexualidade atualmente e Daniela Mercury não estaria fora disso (ao contrário). Mas fica parecendo que é a única que pode ter utilizações várias dos seus atos políticos. TODOS nós podemos. TODOS nós assumimos arquétipos identitários que se potencializam nos contextos mais ou menos favoráveis. O que é celebrável, mesmo, é que esta atitude potencializou uma luta coletiva e, seja através da cultura da mídia (vazia, afeita a arroubos e explosões que geram audiência, etc) ou através da passeata pelas ruas das cidades, do mesmo modo que se precisa pensar melhor antes de agredir um negro, penso que estamos começando a chegar num momento em que “viado” e “sapata” deixarão de ser termos constantes em rodas de piada, inclusive entre pessoas das ditas "minorias sociais". 

Fico pensando também em por que tanta demonização de uma figura pública em nome de bastidores ditos “sabidos por todos” que assim se colocam em posições tão inatingíveis moralmente quanto irreais. Me vem uma imagem de um mundo repleto de Nossas Senhoras e São Franciscos de Assis, todos incólumes e acima do bem e do mal... Hipocrisia? Maldade desvelada? Prefiro não comentar, como diria a personagem televisiva...

A questão é a seguinte: queiram os detratores de plantão ou não, neste momento, a ação foi de Daniela Mercury e de sua companheira atual. E isso é.

Vivamos!

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Fazendo o Canto andar (ou Os meus amores II)





Esta interpretação não me sai da cabeça.

Nenhum "autotune" pode chegar a esta beleza...


Como a limpidez da voz pode dar lugar a timbragens típicas de uma nova musculatura e chegar num resultado destes?
Somente numa Artista como esta, mesmo...

Acostumada à nuances de suavidade e naturalidade vocais incríveis, aqui, ela encarna a tensão perfeita em uma interpretação comovente de tão verdadeira.

Meu Deus!
Salve Gal Costa!

A canção é Autotune Autoerótico (Caetano Veloso) e integra o Disco/Show/DVD Recanto, da cantora e produzido por Caetano.

Dedico a Vércia Gonçalvez e Cláudia Cunha.




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