Cantigas

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Por que Oxalá é Crístico.


Na minha experiência espiritual, Oxalá e Jesus Cristo andam de mãos e espíritos absolutamente irmanados. Eu sou um iniciado no Candomblé (leia-se raspado para Odé-Oxóssi). Sou, também, (aliás, até antes, no Tempo) batizado e passado pela Primeira Eucaristia Católica. Graças a Deus / Olorum / Javé, sou um ser humano que vive a fé como uma sensação de pertencimento a Deus. 

Na minha sensibilidade, este Ser possui diversos avatares (caminhos, personificações, imanências para nós simples humanos e co-criadores). Oxalufã é um deles. Jesus Cristo é outro deles. E para mim (e isso não é equívoco, mas princípio de crença), estes dois Seres de Luz extrema e necessária são diferentes, e ao mesmo tempo fazem parte de um mesmo mistério espiritual, ligado ao purificar, ao branco da re-união criativa e da finalização do viver neste mundo. Tanto um quanto o outro são invocados constantemente em associação nas cabeças e corações de muita gente, o que - simplesmente por isso - seria suficiente para que suas energias se tangeciassem, como se tangeciam aqui no Brasil e na Bahia, mais particularmente. 

Minha eterna saudação dupla não é um equívoco - torno a dizer! Eu sei do que estou falando. Se há um desejo político (cuja legitimidade é real e compreensível) em separar de forma aristotélica e cartesiana estes Entes unidos pela fé há tempos, isto não me interessa enquanto crente. Santa Bárbara não é Iansã. São Lázaro não é Omolu. Todos estes Entes são avatares de energias cósmicas muito mais profundas e que se imantam na Terra com nomes e formas diferentes. Eu não sei disso. Isto é! Basta sentir. Além disso, a Igreja do Bonfim guarda diversos elementos históricos que vinculam - no plano menos metafísico e transcendente - Nosso Senhor do Bonfim e Oxalufã. O monte em que a Igreja foi construída, segundo diversos autores da História e Antropologia da religião Afro-brasileira foi associado ao Monte Okê - africano-, que por sua vez está associado ao orixá Okô (da fertilidade agrícola) que por sua vez, cedeu elementos a uma associação da Colina Sagrada a um lugar sacro também para os então escravos iorubanos que cá chegavam no século XIX, aprofundando a fé no Cristo em relação com o Deus Fun Fun do Candomblé (então em formação). 

O fato de ser a Segunda Pessoa da Trindade e de ter vindo à Terra como representante do Criador também ajuda na associação ao Ebora Pai dos Orixás. Orixalá, Orixá Nlá, Obatalá, Obatarixá (os diversos nomes e personificações em terras africanas, aqui fundidas como OXALÁ) podem, sem problemas, serem remetidos a fundamentos elementares da natureza de Cristo, sobretudo quando divinizado e elevado à categoria de ressuscitado. O Cristo que ascende aos céus também tem as vestes brancas e a missão de trazer a paz ao mundo, tal como é cultuado (na oferenda do milho branco, no Alá que recobre sua proximidade e na sua paciência para criar o mundo constantemente) Oxalufã na vida cotidiana dos adeptos e achegados das religiões africanas. 

Deste modo, viva Nosso Senhor do Bonfim e viva Oxalufã a cada quinta-feira dos janeiros em que as pessoas de fé (e outras nem tanto) acorrem para a Colina, de branco saudando a energia destes Seres (irmanados, associados e aproximados pelo clamor humano de paz e misericórdia) dos quais tanto precisamos para aprendizados múltiplos. E no mais... "Meu Pai veio de Aruanda e a minha Mãe é Iansã... Queira Deus, Oxalá! Gilberto Gil sabe bem das coisas... "Lavagem do Bonfim, quinta-feira..."

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Da flor no lodo - o que Danilo Gentili não sabe...




A homoafetividade é um tema que (2012, século XXI e "novas eras" à parte) ainda representa um corte. 

O assunto parece uma lâmina afiada na veia jugular dos brasileiros. Esta lâmina faz jorrar lentamente o sangue dos conceitos sobre a vida que se afirmam desde que o pau-brasil foi extraído pela primeira vez no interesse dos ibéricos cheios da fé católica anti-amor entre os iguais.

As telenovelas abordam, os telejornais listam conquistas, os teleguiados comentam - e todos vivemos hoje sob a bandeira da "tolerância" e da "diversidade" buscada como éden contemporâneo. 
Este é o quadro. 
E o fato é que esta lâmina brilhante e "colorida" que corta tudo continua sendo um problema na concepção de mundo e na ideia sobre a vida neste país em que os morros são "pacificados", os políticos cassados assumem cargos públicos e Salvador ainda não tem Metrô.

Recentemente, o jornalista Danilo Gentili mais uma vez fez piada sobre o tema, utilizando-se de uma estatística cruel acerca da morte de pessoas em função (de alguma forma) de sua condição sexual homoerótica.

O rapaz brincou, foi criticado, mas a bem da verdade, sua fala representa um extrato do pensamento corrente entre grande parte da população no Brasil. 

Todos dizem "aceitar" a presença dos gays, lésbicas, bi-sexuais e afins, mas a simples convivência com qualquer manifestação de afeto, carinho e/ou desejo entre pessoas de sexos iguais, sobretudo publicamente, ainda é "uma vergonha", deve ser restrita a "quatro paredes" e etc. 

Os transexuais e travestis, estes nem figuram no rol do respeito, a partir do olhar tosco e bruto direcionado para os personagens cujo gênero transcende a norma biológica.

A fala de Gentili é uma imanência semântica: traz para a zona do popular midiático aquilo que se escuta e fala nos corredores de escolas, nas mesas de bares, nas salas de jantar (em que as pessoas ainda estão preocupadas meramente em nascer e morrer) sobre os viados, bichas, baitolas, sapatas, roçonas e termos mais utilizados para depreciar a existência do afeto e amor entre seres humanos que nasceram com a genitália comum.

O jornalista "engraçado" fala do cu (com o perdão do termo) como ícone da questão. E é aí que reside o problema da sexualidade vista como algo fétido, obscuro e que deve ser escondida. O cu é o tema, não o amor.

Ser gay significa exatamente - nesta visão reducionista e parca - estar meramente submetido a esta parte do corpo, associada à sua contraparte fálica, que é o pênis. Este binômio está incorporado nas mentalidades e atua a partir do pensamento pobre daqueles que julgam o homoerotismo pelo olhar fisiológico e só.

Se somarmos a estas miradas sobre estes lugares corporais a genitália feminina (que se encontra com outra genitália feminina em relações deste gênero), está montado o sistema de representações do senso comum acerca da homoafetividade. 

Neste campo de significados, tudo se resumiria aos binômios em foco aqui. 
Tudo seria apenas encontro de genitais. 
Tudo seria mercado de moedas e fluidos corporais. 
Em fato, tudo é este conjunto de fluidos. E eles compõem, mas não são exclusivos de todo o restante humano.

O que Danilo Gentili não tem condições de entender - e nisso participa de uma população bem maior - é que carinho, afeto, amor e toda uma gama de sensações e sentimentos muito mais profundos podem emergir entre pessoas - sem definição de pólos sexuais. Que o diga, aliás, o ator José de Abreu, em recente declaração sobre "pan-sexualidade".

Brasil: o sexo não é corte; é ligação. Os corpos não são meros agentes de desejo.
Queiramos superar dualismos...
Mas aí, para isso,  será preciso fazer com que a brutalidade se converta em flor. 
E eu bem sei como isso é poético demais para Danilo Gentili e muitos outros seres que habitam este planeta Brasil.
Infelizmente, não tenho lá muitas esperanças... mas... quer saber? 
O mundo roda!

domingo, 6 de janeiro de 2013

Eu não acredito em Deus



Um tanto quanto entediado destas "veleidades" intelectuais que se espraiam neste período de final/virada de ano, sobretudo com o tema Fé. Penso que é preciso entender o que é muito mais simples do que parece. 

Vários rituais cristãos, do Candomblé, do Judaísmo, etc foram frutos do que chamamos de hibridismo cultural, ou sincretismo (como prefiram). Me parece ingênuo - para ser delicado - o ataque que vejo surgir às pessoas por causa de sua fé. Os ateus convictos não se importam com a existência das crenças. A bem da verdade, a partícula a, nos sentido de negação, já pressupõe a abstenção no debate sobre o tema, pois o limite entre o agnosticismo (que em tradução mais literal significa "não conhecer") e o ateísmo é muito tênue. 

Os agnósticos me parecem mais coerentes com o mistério, haja vista que a própria reconstrução das origens da humanidade permanece - para a ciência histórica - da qual faço parte academicamente - na incógnita do que se chama Elo Perdido. Não sabemos ao certo qual espécie biológica originou o ramo sapiens... Não sabemos que fagulha, que chama, ou que gota em fato originou a evolução da coluna dorsal; o que realmente nos tornou seres do filo cordata e nos colocou na placenta em barrigas femininas do gênero primata

Mistério é, mesmo que esteja para ser desvendado - até onde se permite ir pela natureza ontológica própria do que é misterioso no caminhar da vida neste planeta. 

Enfim (e é o mais importante), todos possuem o direito de existir em suas verdades, sem ser consideradas "burras", como sugerem algumas laudas produzidas por pessoas sérias e algumas nem tanto... Esta agressividade não me parece saudável. 

Chega de raiva encapsulada como se fosse irreverência, sagacidade, "élan"  e inteligência estética/filosófica/acadêmica. 

Afinal, "quem é ateu e viu milagres como eu sabe que os deuses sem Deus não cessam de brotar..." como diz um dos meus referenciais, o senhor Caetano Veloso - um ateu declarado e fiel evidente. 

Eu, que não sou ateu, não acredito em Deus. 
Sei que esta realidade em forma de Ente é. 
E isto basta... mesmo para os ateus.

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