Cantigas

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Dia frio, bom lugar para ouvir o céu trovejar!!!




















É de manhã, vou buscar minha fulô!
A barra do dia "é vem"
O galo cococorou
É de manhã
Vou buscar minha fulô.
Caetano Veloso

E não é que a flor veio?
Nasceu da graça baiana com a força luso-africana de céus rubros e trovejantes.

18 de junho. Bodas de Bethânia.
E Maria continua a brilhar!

E estas letras, escritas há algum tempo por mim, ainda ressaltam esta presença no meu cenário particular.

Vamos a elas:

Maria

Maria, I can see you from here! Caetano, um dia, gritou do alto do norte da Europa.

É fato que todos podemos vê-la e ouvi-la. Assistir Bethânia é sempre inaugural. Vemo-la e pensamos em como a canção popular faz sentido no Brasil. Como faz sentido em nossos corações, em nossas mentes.
Bethânia é torre de grande altura. De lá, de onde nos contempla e para quem faz questão de estar presente, repetidas vezes – e sempre impressionantemente inédita – faz recobrir-nos elementos capazes de recriar sentimentos dos mais variados matizes. Certa feita, uma senhora em Salvador chegou a questionar o que faria com tantas emoções?! Não há resposta para esta questão em se tratando de Bethânia. Ela é criadora. Não é capaz de conter. Não é capaz de não se dar. Não ela.
Com água ou fogo ou mata ou terra; a natureza é transmutada em matéria; o espírito do intenso. Maria. Este é seu primeiro nome. Maria também é mãe. Senhora das abissais e colossais manifestações do sentir. Nada pequeno, nada contido. Pianíssimos de voz que mais parecem absurdas freqüências inaudíveis para ouvidos desacostumados. Rasgos da intenção e da competência para burilar em letras e sons as matrizes de nossa alma.
A aparição de Bethânia foi um acontecimento. Sua permanência, um presente do destino. Seu auge, uma certeza. Contrariando a lei mais certa do humano, Bethânia já não é mais finita. E essa sensação se apresenta na impressão eólica de sua presença. O vento é o eterno mutável do I Ching, tal como Bethânia. De tanto parecer igual, nos soa sempre como nova, como pertencente ao mundo da supra realidade cósmica, a partir de sua música e gestos e fala e todo corpo a aparecer na Hora da Canção. Hora de Bethânia.
Hexagrama de abismos, que é água sobre água na montanha; que não é senão o início da eletricidade, do fogo criativo. Caldeira de ar quente e hálito frio de sua mãe, senhora da vida e da morte.
Maria é Nossa Senhora do Perpétuo socorrei do ânima. Faz chorar e explodir em alegrias, ensinando a existência da realidade como ela comparece: viver é assim!
Lágrima por lágrima, Bethânia presenteia. Águas de Oxum? Cristais de Maria, a Virgem? Chuvas de Oyá?
Cada página biográfica na estrada da música representa um passo de estrela que se permitiu sair (sem cair) do céu e passear entre nós.Bethânia tem nome bíblico. Antigo e Novo Testamentos da Música Brasileira. Dalva e Calcanhotto. De Barro e Antunes. Debaixo d’água tudo é mais colorido. Cores de Bethânia. Cores da Bahia revivescidas na aquarela que a intérprete faz viver através da voz que canta no corpo.
Maria é uma vocação! Maria é promessa que se cumpre!
A força de Bethânia já nasce no grito do carcará.
Pega, mata e nos dá de comer. Comer poesia.
Beleza e Tensão. Amor e Revanche.
E, graças aos céus, o povo brasileiro ainda hoje pode dizer em alto e bom som:
Bethânia, I can see you from here!


Carlos Barros, 31 de agosto de 2007.

No mais,
Feliz Aniversário!

Carlos Barros.
18 de junho de 2008.

Um comentário:

Anônimo disse...

Que lindo e forte este texto.Adorei e me fez viajar até Santo Amaro e os muitos encontros com a D.Canô.Parabéns!

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