Cantigas

segunda-feira, 7 de julho de 2008

No dia em que festejavam os anos


Eu era feliz e ninguém estava morto no dia em que eu festejava - com Campos - o dia dos anos dos meus.

E a minha felicidade parece querer ficar por perto quando posso, estando vivo, comemorar o dia em que festejam-se os anos de nascimento daquele meu que parece desafiar a temporalidade, estando à frente e no mesmo tempo que nós.

26 de junho são dois dias depois de João Batista.
Oito dias depois de Bethânia.
Sete dias depois de Chico.

26 de junho é quase bíblico. Do lugar Bethânia, passando pelos pés de São Francisco de Hollanda, chegamos às mãos e às feições de Gilberto.
Gil nos engendra a cada dia com sua música, seu pensamento, sua linha evolutiva, cozida com o linho branco de Oxalá nesta terra rubra e por vezes tão difícil.

Vida e morte para que se zele.
O próprio Gil nos ensina/aponta que a festa é também uma lembrança da chegada que nos coloca à vista da partida. E ele está conosco (graças a Deus) para mostrar que a poesia engrandece e nos coloca num patamar de observação da vida desejando-a como eterna. Deusa mudança que nos conduz e nos faz mergulhar.

Gil é um mestre. Meu pai, meu companheiro de há muito. Minha solidão adolescente sempre foi temperada com suas melodias, seus acordes e suas aulas para anos depois. O músico em mim é ele. O cantor em mim veio dele. O criador em mim é sua mímese.

Gil me é e eu sou de sua persona pública. Seu zen-budismo, tão diferente de minha eletricidade em estufa, é o contraponto do meu sentir-se perdido no mundo. O velho baiano e o menino do Rio.

Gil construiu em Barros a noção de que viver alegre é uma possibilidade. Seus agudos e suas letras sempre me direcionaram para o mistério da vida. Quando eu queria falar com Deus, muita vezes eu ouvia ele, mesmo não tendo esperanças que Deus pudesse ser algo que eu pensava encontrar...

Gil falou comigo. Eu falei com ele e foi a minha proximidade maior da força mística da música brasileira.
Caetano é o Gênio.
Gil é a Criação.
Dois elos de mim com o mundo.
Elos que deixam-me o mundo melhor...

E para não adentrar demais no mistério que Gil proporciona a cada um de seus espectadores, basta dizer que em 26 de junho, uma preta baiana cem por cento pariu o rapaz.

Neste dia, há 66 anos, Gil soou as notas do rouxinol.

Raiou!

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