Cantigas

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Carlos Barros e Banda do Céu no Tom do Sabor

Carlos Barros solta sua voz marcante no
Tom do Sabor
A música baiana, como a brasileira, é marcada por belas vozes femininas, e só de vez em quando é que surgem cantos masculinos com a qualidade e a originalidade de Carlos Barros, jovem cantor nascido em Salvador, herdeiro da tradição musical dos Doces Bárbaros, que se abre para o nosso mercado musical, em fase de pré-lançamento do CD Cantiga vem do céu, usando como veículo o palco nobre do Tom do Sabor.

Numa curta temporada, entre os dias 03 e 17 de junho de 2009, no Tom do Sabor, às 22h., inicia-se o pré-lançamento do CD Cantiga vem do céu, que no show homônimo de Carlos Barros, apresentará as canções deste seu trabalho inaugural, com previsão de saída para outubro deste ano, selando a chegada de um artista que tem muito a dizer à nossa produção musical de qualidade.

Carlos Barros, 32 anos, historiador e sociólogo pela UFBA, pesquisador musical que defendeu uma dissertação de mestrado, em 2005, sobre os Doces Bárbaros, possui uma força interpretativa marcante e reatualiza a musicalidade de nomes como Gal Costa (sua musa maior), Caetano Veloso, Chico César, Zeca Baleiro, Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Maria Rita; além se espelhar e conhecer como poucos, a obra sem par de Gilberto Gil, compositor - inspiração de Barros que, cenicamente, alude também em suas influências a cantora Maria Bethânia.
Cantiga vem do céu é um show inspirado; além de desfiar as 13 canções que compõem o CD, traz outras cantigas que se coadunam à temática central deste trabalho. O título vem da canção Coraçãozinho, de Caetano Veloso, lançada na trilha sonora do filme Tieta, de Cacá Diegues.
Carlos Barros acompanha-se da Banda do Céu, composta por Pedro Ivo Araújo, violão e guitarra; por Marcus Lima, na bateria; por Alex Medrado, no baixo; e João Carlos, nos teclados; o cenário foi composto por Márcia Barros; a direção artística é do próprio Carlos Barros, que recebeu o auxílio criativo de toda banda.
A atmosfera criada para este show é assim definida pelo artista: “O repertório parte de uma apreciação da música brasileira sob a ótica das nuances do céu, e passeia por canções inéditas de compositores na nova safra da Bahia e clássicos da MPB e do POP, costurando uma trajetória da música do Brasil, notadamente passando pela Bahia e pelo Rio de Janeiro. O roteiro do espetáculo conduz-se a partir dos conceitos de beleza, do cantar, do palco e dos Brasis; no mundo, nas regionalidades e nas urbanidades.”

Este dois shows resultam de uma preparação artística que há dois anos vem sendo engendrada pelo cantor e pesquisador, que nos seus 12 anos de estrada, sente-se agora amadurecido para lançar um CD e vai mostrar isto em suas apresentações no Tom do Sabor.

SERVIÇO:
Show: Cantiga vem do Céu
Artista: Carlos Barros e Banda do Céu
Onde: Tom do Sabor
Endereço: Rua João Gomes, 284, Rio Vermelho ( tel.: 71 3334 3039)
Dias: 03 e 17 de junho de 2009, às 22 horas.
Couvert: R$15,00.

Maiores informações:
Assessoria de Comunicação: Marlon Marcos – (71) 8107 4693//8749 5595
Artista: Carlos Barros: 71 8830 4504
Tom do Sabor: 71 3334 5677


segunda-feira, 4 de maio de 2009

Rasgo da Virgem no corpo de Madalena


Elis era um rasgo.
Ou será que com ela pode mesmo haver passado?
Era?
A conjugação precisa ser no presente. Precisa como a navegação daquele que não sente precisão nas incertezas da vida, mas cujo navegar é imprescindível. Imprescindível tal como o rasgo de luz de Elis.

Elis não foi, nunca poderia ter sido como fato histórico que se esgota na inevitabilidade de ser devorado por Cronos.
Elis não foi, nunca será. Elis é.

E em sendo, ela está, como mito, no inconsciente (quer se acredite em psicologia, ou não) a tilintar e fazer exercitar nossa capacidade da busca de algum entendimento para saer como pôde ter surgido.
De fato, ela não foi.
Elis nunca surgiu. Elis Regina Carvalho Costa habita uma região da existência que não tem tempo nem espaço.

Não falo da mulher de carne e osso (como na canção de Moska e Zélia), nem da cantora, que fisiologicamente transpunha limites entre belo e exagerado, entre pouco e estranho, entre o sim e a negação de qualquer polidez.


Falo do que seu canto representa (querendo inclusive negar o que é para nós a representação - uma imagem que ocupa o lugar da coisa?) como matriz e resultado de Danielas / Ângelas; Leilas / Dalvas; Anas / Dolores; Shorts / Caubys.


O canto de Elis (segundo Rita Lee, o canto do corpo inteiro) nos delata sobre uma certa ânima brasileira que ao mesmo tempo ama e não gosta (pois não goza) deste país.
Vá lá...
Querellas do Brazil na voz de uma gaúcha cujo chimarrão tem gosto de café forte e sem açúcar das esquinas matinais de São Paulo.


Sua afinação e capacidade de atingir regiões físicas e espirituais do cantar nunca foram superadas por nenhum artista brasileiro. Sua angústia interpretativa (mesmo nas canções mais alegres) é sinal de Orfeu em estado de vigília, pela perda de Eurípides.

A Gal é Orfeu sorrindo!

Elis é Orfeu despedaçando-se (gloriosamente)!


Bethânia é Eurípides em Orfeu.
E assim, é de certo modo, um outro lado de tudo que Elis fez. Uma drama.
Outra chama.
Uma raio.
Outra rasgo.


É. Elis também era contraponto. Elis também era possiilidade. Corcovado? Atrás da porta? Basta de clamares inocência?
Quantos Tons, Chicos e Cartolas para esgotá-la?

E o primeiro disco?

Brotolândia? Que broto, que nada! Elis já nasceu madura. Nasceu árvore frondosa da Flora de Gilberto Gil, que o poeta projetou para um futuro distante.
Elis já era a jaqueira. E na copa, a ensiná-la em tempos mitológicos, as aves (que desafiaram Oxóssi) de vozes agudíssimas deram a força e o fio de corte da voz de Elis.

Pois é, esta filha dos tufões também tinha um pacto com o feitiço. As Bodas de prata de Bosco e o Canto de Ossanha do outrora Baden estavam na garganta certa.


Elis cantou na Bahia, embora não fosse baiana em hipótese / aspecto algum.

Elis apaixonou Gilberto Gil.

Elis apaixonou Bôscoli e César.

Elis encantou - sem doce nem flores - um Brasil tão carente de carinho.

Como dar amor sem demonstrar paz?

"O amor é fogo que arde..."
Elis é uma passagem bíblica. E a minha obssessão pelo religioso na música me faz mais uma vez evocar um Livro Sagrado.
Elis estava entre Madalena (por isso fica tão bem com Ivan Lins, não é?) e a Senhora de Aparecida da Romaria,que, em Pirapora, apareceu para Renato Teixeira.

Renato soube que Elis era a Virgem. Ele soube que Elis podia ser o que quisesse.


Caetano certa vez disse que tudo o que Gil não fez em música foi por que não quis.


Eu digo que tudo o que Elis não fez em canto foi por que não pôde. Teríamos condições de apreender o que viria?

Seríamos capazes de poder arcar com as emoções desprogramadas que aflorariam daquele canto milimetricamente pensado para emocionar?

Poderíamos ouvir/sentir/sorrir/chorar/conter/segurar tanto som em forma de mulher?


Tudo o que Elis não fez em canto foi por que Cronos segurou.
Entre mitos, tudo pode. E Cronos aparou a velocidade de Elis...
Saturnamente, como o Opachorô de Oxalufã, como o Xaxará de Omolu e o Ibiri de Nanã, o Tempo adiantou uma passagem. Adiantou uma nova morada para Elis, que, de todo modo, sempre habitou aqui mesmo.


Não ouvimos hoje nada novo por Elis por que não alcançamos seu canto em outra esfera.
Ela continua (como sempre esteve) a cantar para todos nós.
Ela, pisciana, canta com o canto de Aquário.
Milênios à frente do nosso tempo, está ela para nos poupar da incompreensão dos sons que somente Elis ouvia.

Melodias, escalas e notas de passagem que somente Elis podia reproduzir.


Tudo o que Elis não fez para nós está sendo feito agora, por ela mesma, num tempo que - antes de nos devorar - nos faz
não ouvintes de sua voz, nos faz inertes ao emitir de seu corpo etéreo e de sua presença eterna.


Assim, aqui, agora e no tempo do quando, Elis é o canto do Brasil, desde os caiapós até o bêbado/equilibrista das boites nas madrugadas urbanas deste país.


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