Cantigas

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Dom


Como disse certa vez Tônia Carrero ao falar sobre as cores(psicografada em canção referencial de Caetano), a predileção é mesmo sobre o que?

Minha arte é a minha predileção completa sobre a vida, sobrte o desejo de mostrar ao mundo que este ânima veio para dizer.

E mesmo que as intempéries impeçam os ventos de soprarem por entre as árvores de pedra da dura vida que nos é dada, a minha voz, brilhante e viva, soa.

E como o som da pessoa já preconizado pelo meu mestre Gil, Carlos Barros é uma voz que soa no corpo, adornado pela força bethânica e pela beleza ga(l)úcha, como a chama o próprio Gilberto.


Eu me coloco por entre a chama bárbara e os ecos baianos de hoje. E assim, minha voz pode sair sem a dependência circular dos agrupamentos secretos dos quais não sou (nem mesmo sei que quero ser) parte.


Simplesmente (e ao mesmo tempo complexamente) eu canto!

Para não deixar de evocá-lo de novo:

Solto está o pássaro proibido!


Deixo vocês com Chico César. Me leio no dom de que fala este contemporâneo:

Dona Do Dom
Chico César


Dona do dom que Deus me deu

Sei que é ele a mim que me possui

E as pedras do que sou dilui

E eleva em nuvens de poeira

Mesmo que às vezes eu não queira

Me faz sempre ser o que sou e fui

Eu quero, quero, quero, quero ser sim

Esse serafim de procissão do interior

Com as asas de isopor

E as sandálias gastas como gestos de um pastor


Presa do dom que Deus me pôs

Sei que é ele a mim que me liberta

E sopra a vida quando as horas mortas

Homens e mulheres vêm sofrer de alegria

Gim, fumaça, dor, microfonia

E ainda me faz ser o que sem ele não seria

Eu quero, quero, quero, é claro que sim

Iluminar o escuro com meu bustiê carmim

Mesmo quando choro

E adivinho que é esse o meu fim


Plena do dom que Deus me deu

Sei que é ele a mim que me ausenta

E quando nada do que eu sou canta

E o silêncio cava grotas tão profundas

Pois mesmo aí na pedra ainda

Ele me faz ser o que em mim nunca se finda

Eu quero, quero, quero, quero ser sim

Essa ave frágil que avoa no sertão

O oco do bambu

Apito do acaso

A flauta da imensidão.

Desejo beijos e ouvidos para todos. Amigos e nem tanto,

Carlos Barros.

02 de junho de 2008.

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