Cantigas

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

O Sol do Sul


Ato I

Pensou que eu não vinha mais?

Cheguei depois do carnaval e estou ouvindo Jau e Caetano cantando Ó paí ó.
E é pra dizer o que vi que estou neste lugar da minha escrita.

Vi a rua cheia/vazia de gente andando e pulando ao som do pagode do Psirico, da Dalila de Ivete, dos beijos da incompreensível Leitte, da fantasia de Durval, dos acordes elétricos de Armandinho e da volta linda e bem vinda dos Novos Baianos.

Vi e ouvi gente admirada e irada com os beijos de meninos e meninas no Crocodilo (que rendeu texto lindo do jornalista Ronaldo Jacobina).

Vi e senti Gil e Caetano na Varanda Elétrica idealizada por um Carlinhos Brown cada vez mais Exu/Ogum a nos abençoar com a criatividade deste nego véio da Bahia, como nosso preto velho menino que saúda e dá inteligência e força; misticismo e objetividade.

Salve o nosso Exu maior da rua de Salvador.

Não vi, mas fiquei feliz com Márcia Short (embora não deva ser somente lembrada
como elemento histórico dos anos oitenta) e sua voz de trovão adocicado, minha artista/irmã: uma das Oyá que estiveram por nós neste carnaval.

Saí no Gandhi e pude mais uma vez constatar a força de Oxalá e Iemanjá nas ruas da Bahia.
Beijei e abracei na força da irmandade e tudo ficou mais azul, entre as cores deste que é o maior Afoxé do Brasil.

Dancei ao som dos ritmos negros que são cada vez mais tolhidos pela intolerância tal qual a que nesta semana final de fevereiro fez um rapaz de quatorze anos ser agredido em São paulo por que ele é um EMO(?!?!?!?!)

Os skin heads religiosos de Salvador adam também por aí... Será que ainda apanho por usar um fio de contas de Oxum?

Pulei, dancei e arrasei, como na letra de Brasileirinho, que foi enaltecida por Baby do Brasil e por Daniela Mercury.

Ato II
(deste texto que está a caminho somente para chegar a ela.)

Daniela Mercury é um nome a se escrever em letras pequenas, para equilibrar (como bom libriano que sou) a enorme grandeza já apresentada por sua existência enquanto artista.

Pouco me interessa tudo o que se fala da personalidade quente e altiva de La Mercury (pra falar a verdade, eu gosto muito!), mas o que importa de fato é termos e vermos uma artista com o respeito por si (e que acaba expressando-se para os outros) que está todos os anos mostrando e ensinando o que é música num contexto de arte industrial como o que vivemos no mercado brasileiro.

Daniela Mercury é sempre um acontecimento (como já disse seu filho Gabriel, ao falar de seu temperamento mais calmo em relação ao da mãe) e a cada carnaval o acontecimento é luminoso.

Lunar, como coloca Marilda Santanna em sua tese de doutorado, Mercury traz sempre ventos de ares bem vivazes, ares nunca burocráticos e tonalizados de vermelho pela sua ansiedade constante em fazer o melhor.

Poderiam dizer os críticos que não consegue sempre ser o mais perfeito. De fato, mas como é mesmo que se fazem bons gols? Esperando a bola no impedimento da pequena área?
Ou eles acontecem jogando-se o melhor possível e se fazendo um atacante agressivo e estratégico, arriscando e atuando?

Daniela é Zico e Pelé; é Alexandre Magno e Colombo.
Daniela é Elis e Gal; Bethânia e Ney; Dalva e, claro, Carmem Miranda.
Sua performance é o sol de Leão (com todos os feixes que por vezes ofuscam) e os raios de Oyá.
Daniela é a espada de Oxaguiã e as águas de Oxum quando ela está banhando-se e atraindo olhares de desejo.

Daniela é oriki baiano de modernidade e respeito. Daniela é espetáculo.
Com ela, a Broadway é aqui. Nova York com o dendê da baiana (ela própria, é claro) sendo desenhada por Andy Warhol num muro da Pituba.

Daniela é Caetano. Não sabiam? Ela é ele, com um ar de elegância e agressividade femininas e um perfume de Salvador no que esta cidade tem de melhor.

Neste sentido, Daniela é filtro, a purificar meu olhar sobre este sítio em que estamos, muitas vezes sujo de tanta pobreza existencial que se coloca sob o pretexto de não "perdermos a essência".

Como a minha essência é Oxóssi e Sagitário, Daniela me traz esta noção de que o melhor lugar é aqui e agora: no MUNDO!

Daniela é minha vizinha; moramos na mesma cidade. E isso me dá tanto gás para aqui estar...

O carnaval dela é o Triatro com suas dançarinas e dançarinos mostrando um labor a serviço da arte, a serviço das energias venusianas que nos chegam através da africanidade de Ilê Pérola Negra, Dara e O mais belo dos belos.

E salvemos o Ilê!!!!!!!!!!!!!!!!

"Eu trago o sol, o céu o azul".

Do Sul da América, esta moça traz o brilho.
E eu, que me vicio fácil com o que é belo, fiquei por ela amasiado (como se diz na Bahia), amante de sua força e de seu estar no mundo.

Enfim, o carnaval de 2009 - como muitos outros - foi para mim de Daniela Mercury.

Ela que me trouxe minha mãe Oyá-Iansã para todos nós, que lembrou à cidade que Margareth Menezes é uma força que precisa ser respeitada, que dançou para pipocas, crocodilos e outros tantos bichos, grilos e grilados com a sua intensidade.

Que os próximos carnavais sejam de Daniela.
Que os próximos carnavais sejam da criatividade e competência; do ajuste e do respeito; da inteligência e da não folclorização do povo.

Que o próximo carnaval seja tão solar quanto este.
E que o Sol possa brilhar para todos.

Pensou que eu não vinha mais?
Oyá me trouxe!

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

2009 e o Céu


Carlos Barros em ritmo de música total!

2009 chegou com Júpiter, Odé, Oyá, Leão e todas as conjunções positivas.

Assista Carlos Barros

Veja em:

www.myspace.com/barroscarlos

Total de visualizações de página