Cantigas

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Romã, fruta de hoje e sempre.


A canção Romã (Ivan Farias/Pio Otávio/Carlos Barros) têm me rendido muitas felicidades.


A confecção dela já foi um aocntecimento, pois nasceu de umpoema escrito a quatro mãos, com o poeta Pio Otávio, e tornou-se música e letra nos dedos de Ivan Farias, que a burilou e construiu esta obra que é a peça.




Amigos, conhecidos, desconhecidos e - até creio - inimigos falam bem de Romã.




A moça do nome da música é filha de uma professora da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal da Bahia.




Sua presença física e espiritual nos ambientes acadêmicos nos idos de 1997 fez com que o poeta Pio Otávio instigasse Carlos Barros a escrever sobre ela.




Mas eu não queria falar somente da mulher, mas precisava brincar com as palavras e encontrar ROMA em ROMÃ. Sua mãe nos dava aulas de História Antiga, donde vinha a isnpiração a mais para que o universo mítico da Antigüidade Clássica tomasse o espaço na minha cabeça.




Deste modo, Romã tem duas musas: a menina-moça-mulher e a cidade-templo-império.




Romã é dual, como os "Ares da Terra" que são os ares do ar e é Ares o deus da guerra.




Romã é o ã de amor: contrário Roma de Amor de Roma de Amor...




Romã é o passado daquela mulher que nos ensinava tanto do passado do ocidente, que nos dava um futuro personificado na sua filha, a Romã da clara mais poesia de alguém de quem não ouço a voz...




Romã é isso.




Falar sobre ela é devanear sobre um universo mágico e imperial, e eu tenho um orgulho imenso de ser o intérprete da canção e co-autor da letra dela.




No mais, o vídeo que produzi pode mostrar algumas facetas visuais que me vêm à cabeça quando ouço Romã.




Vejamos, então:

http://www.youtube.com/watch?v=tBmI8X2Vjgw




quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mais um contra-axé para a Bahia: só mesmo milho branco, acaçá e muita vela!


Recebi esta semana uma mensagem com um link para o you tube de um vídeo que se intitula “Jacaré Iemanjá”
O material, a pretexto de ser engraçado e botar lenha na fogueira das críticas à Axé Music, acabou sendo mais uma reiteração das ofensas produzidas sobre baianos e nordestinos no Brasil.
O material é racista, preconceituoso com a Bahia e sobretudo de mau gosto.
Por que evocar os ícones baianos de forma tão pobre?
Se o Axé trabalha com clichês, o faz por ser uma música de massa, como o é o rock, o pop internacional, o blues, o reggae e todos os gêneros que vêm ao longo do tempo se perpetuando nas suas praias e nos seus mercados, como os de peixe, ou de sabonetes.

É preciso, talvez, buscar a origem deste material para dizer ao idiota que o construiu que o axé, ou o pagode, a música sertaneja, o funk devem ter seu espaço na medida em que existam consumidores para esta música. E não falo apenas do consumo que provém dos bolsos, ligado à capacidade de compra.
Falo do consumo espiritual que está ligado ao prazer de ouvir, dançar e se exaurir física e mentalmente com o fenômeno cultural que é a música. Afinal, entre Mozart e Xanddy há diferenças que se irmanam na capacidade de produzir sensações, sejam elas quais forem, desde que não atentem contra a integridade humana, único valor inquestionável, e que abarca tantos outros.

Ao contrário do que afirma o "tema" deste áudio-visual, um "bom axé" se faz com bons baianos e sobretudo bons espíritos na face da Terra.

Quem são estas pessoas? Alguns brasileiros que não toleram que a efervescência baiana seja tamanha a ponto de poder produzir discursos simples que se ratificam como legítimos (e o são mesmo?)

É preciso ter muito cuidado com a falácia do "bom gostismo" musical (e olhe que eu sou um artista baiano relativamente distante da seara do axé) , pois ele mascara (muito mal, diga-se de passagem) preconceitos e estereótipos que vêm desde Machado de Assis, que no século XIX execrava as baianas na Praça Onze, ou Millôr Fernandes, que chamava os baianos de bárbaros invadindo a praia de Ipanema na zona sul do Rio.
Sou um baiano do axé, do dendê, da pemba e do EBÓ, sobretudo do EBÓ, e digo aos realizadores deste material que Iemanjá tem, de fato, muito haver com o Jacaré, o dancarino baiano que foi para o Rio viver de arte industrial, como muitos no Brasil a exmplo de Ari Barroso, Luiz Gonzaga, Elis Regina e tantos outros que sao mercadorias do mesmo modo nas prateleiras das lojas especializadas.

Jacaré, certamente, tem a proteção e o AXÉ de Iemanjá, que cuida de sua cabeça para conviver com questões como esta, do "lugar" reservado aos baianos num cenário midiático tão pobre de referências profundas sobre a Bahia e muitas outras partes do Brasil.

Não façamos o discurso xenófobo, pois nos é muito fácil, daqui da Bahia, fazer o mesmo... mas não estamos acostumados a isso... Desde a colônia, somos a cidade aberta dos relatos de Vieira, da música de Saul Barbosa e vozes da voz da música do Brasil.

Nao me cabe, nem a estes sujeitos de tal obra ridícula (o filme sim, de um primarismo brutal!) julgar nem determinar o bom gosto, principalmente se utilizando de tamanha falta de entendimento do universo cultural baiano que é base do que se convencionou chamar axé music.

E no mais, respeitem os Orixás, os negros e os baianos pois pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado - desprezar quem lhe quer bem? E a Bahia sempre deu ao Brasil um bem querer, que talvez algumas pessoas neste país nem possam conceber o quanto.

Portanto, aos que não gostam de Axé (de nehuma natureza e espécie), esqueçam a Bahia, pois é mais fácil esquecer a Bahia que lembrar de gente torpe como dessa cepa nefasta, pobre e podre.


Carlos Barros, 16 de dezembro de 2008.

sábado, 13 de dezembro de 2008

O signo da cidade - a grata surpresa da excelência


Bruna Lombardi e Carlos Alberto Ricelli formam um casal presente nas colunas de celebridades brasileiras há muito tempo.
A atriz e escritora comparece às páginas áudio-visuais como uma atriz de personagens marcados pelo signo da beleza nos folhetins da televisão e seu marido foi por algum tempo galã com ares de cafajeste nos personagens que assumiu.

Bruna e Carlos, ao que parece, resolveram passear por outras telas, outras praias e outros desejos.

O Signo da Cidade é um resultado marcante destes novos andares dos artistas. O filme, roteirizado por Bruna e dirigdo por Ricelli é uma crônica em rizoma sobre a vida de gente comum na mais comum das cidades brasileiras, a São Paulo de hoje.

Com uma história que se compõe de histórias em entrelace (aos moldes de obras como Crash e Babel), o filme traz lirismo, crítica social, ironia, força e sobretudo, um signo de esperança marcando a tonalidade predominante do relato.

O roteiro traz uma condução em que não se perde o interesse nos desfechos e nem na vida daqueles personagens a se encontrarem e desencontrarem - como numa mímese da vida real.
Quando a arte se propõe a este exercício de tocar a vida e capturá-la para dentro de seus limites é preciso que o artífice de tal empresa saiba e possa fazê-lo bem.
Não adianta simplesmente imitar a vida, mas imitar a possibilidade de dar verossimilhança a um mundo criado pelos autores é o meio para atingir esta "realidade" no plano da arte.


Em O Signo da Cidade, o contemporâneo - com sua característica fragmentação e redefinição constante dos sujeitos - é um personagem central, que junto com a cidade de São Paulo, é performer da história, tendo papel definido e decisório para a apreciação da narrativa.

O Signo da Cidade
consegue, então ser atual e profundo; seco e tocante.


Seja o casal em crise, o menino que se sente menina, a astróloga cuja vida se entrelaça com a de todos, o enfermeiro lacônico com a vida ou mesmo a grávida que recusa o destino nefasto do recém-nascido, todos são unidos/separados/dilacerados/reconstruídos pelos dedos do contemporâneo.

Por outro lado, este ser que não é ser e que habita o tempo de hoje como "deus ex-machina" a julgar ações e mediar destinos, tece o linho por baixo da gravura em alto-relevo que é a cidade, seus habitantes e os signos zodiacais que por sobre a Terra, orientam a vida de seres pequenos e de grande complexidade existencial.
Complexos como no filme?
Como na vida?

Como canta Caetano na composição musical de Ricelli/Lombardi a pergunta e a resposta somente podem se referir à solidão na cidade...

Assim, em O Signo da Cidade, nem os astros definem a vida e nem a vida pode superar os astros. Ambos se entrelaçam e se rearrumam constantemente na busca de fazer o dia e a noite se sucederem com menos dor.

Afinal, a arte também possui os seu signos!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A Larga Banda de uma filiação.



Falei com o Gilberto Gil pela primeira vez ao telefone, em maio de 1996, quando acertávamos os detalhes de uma entrevista que realizei com ele para um trabalho de Faculdade.

Gil apareceu pra mim como um dado do real que me levava sempre ao infinito presente da felicidade.

Estava quase sempre sozinho na minha adolescência e Gil era uma companhia importante. Indigo Blue, Feliz por um triz, A Mão da limpeza foram canções do disco Raça Humana que me deram a primeira noção de BANDA que tive na vida.

Sou um artista que gosta de climas musicais.
Sou da Voz e Violão.
Sou da Banda Máxima!

O que aprendi de música complexa e completa foi ouvindo e performatizando Gil.
O amor, a ternura e a energia que seu trabalho sempre trouxeram pra mim foram combustíveis fantásticos que alimentaram meu desejo de ser cantor numa Bahia fascinante e lescinantemente expoente da dificuldade de ser na plenitude.

Em terra de branco mulato/preto doutor, ser músico na Bahia é uma Barra (69/70/2008).

Sou um menino baiano-carioca(cariano, como já disse) que sonha com o horizonte da felicidade.
Gil me ensinou a ser feliz em alguns instantes de canções. Digo que ele é o meu pai.
De fato!
Pais geram, fecundam e fazem as barrigas das mães crescerem. Gil me fez sair e ser um cantor/fauno/animal doce e arisco na música popular.

Agora, em 2008, re-encontrei Gil. Antes nos havíamos falado pessoalmente, em 1997, em 2005 - ocasiões sempre recheadas de carinho e atenção dele e de Flora, sua musa-mulher.

No Teatro Castro Alves, mais uma vez nos topamos.
E ali, eu disse a ele o que já deveria ter falado há muito, mas somente naquele 29 de novembro de 2008 poderia ter dito com tamanha verdade:

- Gil, muito obrigado por você existir, por ser este artista com esta vivacidade, por estar na música brasileira até hoje e por estar aqui agora, na minha frente. Você foi um dos maiores responsáveis por eu ter me tornado um cantor e seguido este caminho tão difícil das artes no Brasil...
- Que bonito (Gil, ternamente, mão no rosto do filho enternecido eternamente...)!
- E a carreira, como está indo?
- Assim, devagar, não é?
- Mas está indo, isso é o que importa!

Pronto! Dado o veredito do Pai-Mestre, como desistir ou recuar na seara da canção?
Como dizer que não dá mais pra lutar em guerras cotidianas pelo sol de cada manhã neste mundo de vales que são de Deus e que não são meus?
Como recusar o vaticínio das mãos deste meu Pai no meu rosto e do olhar de ternura lançado ao fã/colega que se desnudou na frente dele (mais uma vez, diga-se bem!)?

Ainda terminanos o encontro com o tema acadêmico:
- Ah! Gil, eu escrevi uma Dissertação de Mestrado sobre os Doces Bárbaros!
- Ah! Aquela que está lá em casa!
- Pois é! Eu te entreguei há algum tempo!

Findo o encontro, começa mais um ciclo de filiação!
E para os que estão à margem desta história de amor e filiação paternal, Gil é uma luz na escuridão enevoada dos degraus da conquista artística para mim.
E para os que enxergarem a pieguice como tema deste post,
tenham um Gil pra voces!

E mais uma vez me sendo tomado por Caetano (e adoro citar este arquétipo de frase!):

-Gil, I can (always) see you from here!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!


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