Cantigas

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Ela sabe fazer cocada.


Vamos falar de música?
Roque Ferreira é um grande compositor, daqueles que a Bahia cedeu ao mundo nos tempos de Caymmi.
O samba-de-roda e os maneirismos deste gênero são trilhas mais que perfeitas para evocar o Recôncavo.
A cantora Roberta Sá - potiguar (radicada no Rio de Janeiro) - resolveu fazer um passeio por uma Bahia particularmente sofisticada ao escolher Roque Ferreira e suas melodias e letras cheias de um espírito poético hoje raro.
A voz de Roberta, de um agudo suave e marcante, possibilita que as canções de Roque possam ser percebidas para além do caráter antropológico (e necessário) do cantar ao modo baiano.
Sambas-de-roda, chulas, modas e emboladas são presença comum  nas circulares noitadas (urbanas ou não) do entorno da Baía. E  são apropriadas de forma magistral por quem viveu e vive rodeado pela ambiência desta forma de fazer música.

Roberta Sá é uma cantora.
Sua profissão é entoar melodias e interpretá-las
E isso, ela faz com a competência da escola de muitos grandes que vêm antes dela.
O cancioneiro de Roque passa a ser matéria da estilização da cantora e do excelente (chegando a tocar o erudito)
Trio Madeira Brasil.
Os arranjos feitos para cordas e percussões dão à obra executada uma outra possibilidade (menos festeira, no sentido da Bahia em que nasci) e apontam para suingues,  divisões e prosódias baseadas em pequenas transgressões às  óbvias expectativas que, de pronto, se assentam na recepção artística.

Roberta Sá não samba.
Roberta Sá não é baiana.
Roberta Sá não tem dendê.

Ela canta. E muito!

Sua interpretação para Cocada e Água da minha sede trazem algo de profundamente baiano (posto que mantém uma doçura e suavidade associadas à Bahia) e um gosto de brasilidade mais genérica, como aquela típica dos grupos instrumentais de chorinho dos anos trinta e quarenta, em que a Bahia e o Brasil dialogavam de uma outra forma. 
Seu canto é companheiro do som do Trio Madeira Brasil, que segue a linhagem de  
Os Oito Batutas ou mesmo do
Regional de Benedito Lacerda... 
Desta forma, ouvir o disco destes artistas é perceber Roque Ferreira irmanado aos ecos mais inteiros e integrais de uma identidade nacional mais ampla, fortalecida pelas relações entre o Recôncavo e a Guanabara, de
Assis, Dorival, Pixinguinha e Noel.
Nada mal para Roque, que destes, é  par!  

Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil trazem para a música de Roque Ferreira uma janela com outra paisagem. Os trilhos de Santo Amaro entrelaçando-se às visões das casas imperiais da Rua do Lavradio.
 No álbum Quando o canto é reza, temos uma intérprete da voz se debruçando reverentemente à obra de um compositor que - entre ícones como Maria Bethânia e Zeca Pagodinho - tem suas belas peças registradas por algumas cantoras nestes anos dois mil, como Mariene de Castro e Clécia Queiroz, ambas baianas da gema e do prato do samba.

Roberta não tem samba no prato nem pano da costa no ventre: seu Recôncavo passa pela obra de Roque e deságua muito mais na Guanabara dos chorinhos instrumentais tão próprios do Trio Madeira Brasil.
E é aí que parece residir o mais interessante dessa investida: o disco Quando o canto é reza desloca geograficamente um autor, a partir do poder dos intérpretes. Nele se encontram o mais profundo e ao mesmo tempo o menos óbvio de
Roque Ferreira.

O Orixá de frente dele deve ter ficado satisfeito por sua obra tão relevante estar nos ares. 

Bethânia samba com Roque e arrasa!
Mariene nasceu no samba de Roque.
Clécia passeia pela obra de Roque.

Roberta Sá e o Trio Madeira Brasil estão ali, bem colocados e prontos, nas frestas mais valorosas da janela de Roque: aquelas frestas, por onde entra a luz do sol matinal que ilumina nosso sono, nos acordando para novos dias e novos sóis!

Roberta, cante!
Eu preciso do seu amor!

   

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O Nome da Voz


O nome é o que menos importa na identidade manifesta da voz. A audição re-nomeia e nomina melhor que o próprio substantivo. Além do que, ouvi-la é mais intenso que pronunciá-la.

O nome Vércia Gonçalvez traz a sonoridade da musa romana adornada pelo lamento negro de seus cabelos e corpo e alma.
Conheci a cantora Vércia há pouco mais de dez anos ainda verdinha, verdinha, tal como os ramos-pés da esperança pousada na folha. Ela cantava, entre versos de Salmos, a canção Força Estranha, de Caetano.
Lá, neste acontecimento, sua bela e inconfundível diferença despontava em seus graves mais que definidos.
A música de Vércia Gonçalvez transita entre a vontade de Bahia onipresente aqui na Terra e a vocação certeira do que é maior e mais lá no Céu: sua voz tem a capacidade de fazer ultrapassar o aqui-agora e alçar voos altos...

Sim, seu canto precisa de mais que o popular cancioneiro pode oferecer, pois necessita daquilo que nossa canção tem de mais profundo e denso.
A música de Vércia pode (e deve) ser pop, sem contudo, nunca poder (e não dever) ficar na superfície.
Vércia vem da via rascante ( a expressão me vem de Gilberto Gil) de Bethânia. E a musa de seu canto é Gal.
A menina que hoje retorna à Bahia cresceu e se fez crescer na atenção aos agudos cristalinos da  doce baiana. Em si, o corpo fala na palavra cantada a partir das sensações dramáticas e pueris a um tempo só.

Bethânia/Mart'nália?
Oyá/Ibeji?

Nem sei...

O que ouço, vejo e sinto é sua música aparecer como produto de um Brasil roseano, em que a aparente crueza e irredutível força desaguam numa mulher-homem doce e feminina, parafraseando espontaneamente o íntimo de Diadorim.
A luta de Vércia pelo seu espaço no campo da música popular parece mimetizar a batalha literária da fêmea transmutada em macho de Guimarães .

Vércia Gonçalvez é a menina-mulher com timbre forte e alma suave. Ela brinca, erra, acerta, percorre a melodia com a certeza do que diz e do que quer dizer.

Ela toma a canção na voz e aí se espraia, sem dormir: acordada e - olhos abertos/fechados - nos faz sentir fogo em labaredas que se abrandam no vento ancestral de sua musa, que com ela canta junto, na delicadeza de sua ação.
Ah! Somente para lembrar: seu nome é composto, sim!


A menina dança e nós olhamos para o alto, bem lá, onde ela certamente sempre estará vestialmente derramando sua constante força da alegria.



sexta-feira, 12 de agosto de 2011

O mundo é um moinho: de Cazuza e Cartola... Tempo!


Tive uma conversa mais que inspirada com meu irmão Marlon Marcos há alguns dias. 
Embebido e em meio às comemorações do 10 de agosto - em que se comemora o Inquice TEMPO - reassisti ao filme Cazuza, de Sandra Werneck e inspirado no amor que Cazuza tinha por Cartola, na conversa com Marlon e em TEMPO, montei este video, uma declaração de amor incondicional à transformação de tudo, com as tristezas e esperanças necessárias...


Em setembro, Carlos Barros volta a cantar Roberto Carlos...

Show ESPELHOS, imperdível, na Bahia, em Setembro!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Grandeza


Fui apresentado à Márcia Short em meados de 2007, pelo produtor cultural Lucas de Souza, numa conversa suave e corriqueira.


Sua voz já me fascinava desde os tempos em que buscava na música brasileira referências para minha construção artística.
Cantei para ela (no dia do nosso primeiro encontro) algumas canções que eu pensava ( e penso) possíveis de serem apropriadas pelo seu canto forte, denso e lindo.


Daí em diante, a conhecida agradável passou a ser presença na minha vida, como incentivadora da minha música, amiga e confidente de momentos importantes da vida...
Márcia Short - a DIVA torna-se Márcia Short, a DIVA amiga, irmã e, mais que isso: Madrinha!


Short é uma borboleta, como o são as filhas de Oyá. E me leva junto às suas asas pelos quatro cantos deste cenário artístico brasileiro. 
Short, cuja beleza está na face, no corpo e em tudo que canta, faz com que o meu canto possa ser mais apreciado, vivido e apresentado ao mundo por onde voz esta borboleta.


Fiquei mais que alegre ao ver como um de meus baluartes a tem na medida certa: Lenine saudou, louvou e abraçou a DIVA!
Salve (por mais isso) Lenine!


Quem me dera o tempo em que borboletas eram souvenirs de colecionador!
Esta - livre, leve, lépida e faceira - eu queria poder ter em casa para admirar as cores e a vivacidade sempre.
Mas, qual nada...
Short é que me tem: ela que me leva com ela onde for.
E eu fico aqui, como um pássaro pousado nas folhas por sobre a água, aguardando mais um rasante da borboleta para me ensinar como se voa alto e belo!


Iansã é nossa mãe!
A música, nosso divã!
Márcia Short é minha guia!


Se deixem ser envoltos por ela!

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Outra Voz da minha Voz...


Para mim, Maria Rita é a cantora mais eficaz nesta nova geração pós-anos 2000: emissão, timbre, técnica e emoção juntas num trabalho que me fascina muito. O disco e o show SEGUNDO formam uma obra-prima na recente música brasileira! 
Outra Voz da minha Voz

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