Cantigas

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Sobre Marina e o direito de acreditar em Deus...




Pensando sobre política e cultura e religião e afins, me vi deparado nesta terça-feira 22 de outubro e um dia após ter completado 37 anos de vida, com alguns fatos e versões que me fazem ter que pôr a mente (e a alma) a trabalhar.


Não sei ainda se votarei em Marina Silva (embora seja uma opção válida entre as poucas cartas na manga) nem pleiteio cargos políticos e/ou similares. Escrevo por que penso ser  necessária uma reflexão breve a respeito de posturas e atitudes tipificadas como "críticas" que volta e meia são veiculadas por artistas, intelectuais, e alguns menos informados.


No mundo da internet tudo se veicula e tudo se diz sem cuidados necessários à convivência humana pautada na delicadeza. Neste universo em si e em nós (clamando a herança kantiana) vi uma postagem que ironizava a frase dita pela professora Marina Silva sobre o fato dela crer que Deus teria permitido que a lei da Evolução fosse criada.




Entre a irônica intenção da postagem sobre Marina e os comentários de teor risível, fiquei pensando qual o problema da sua afirmação de cunho teológico/filosófico, me colocando sob ângulos diversos e úteis para uma análise prudente e equilibrada.

Marina Silva é uma mulher sabidamente religiosa. De uma denominação evangélica, nunca escondeu de ninguém suas convicções.

Assisti a sua entrevista no programa de Jô Soares e gostei de sua fala, de sua ponderação e da maneira tranquila e segura como falou sobre Deus e Evolucionismo.

Gosto de ouvir e sentir como as pessoas públicas se portam diante de questionamentos vários e - sinceramente - Marina Silva não me suscitou comichões políticos ou desconfianças profundas.

O benefício da dúvida que caracteriza qualquer apreciação a respeito da realidade empírica vale para Marina e para qualquer ser da matéria, mas sem neuras e ranços de diversas ordens.

O que sinto e percebo como elemento que se entrepõe no debate a respeito desta senhora nada mais é que algo contra o qual a maioria das vozes que se auto intitulam "críticas" levantam-se em inflamados discursos regados a expressões aprendidas em sociologia espontânea ou mesmo acadêmica: o preconceito.

Bem sei o quanto uma certa hegemonia em termos de mentalidade ligada a alguns setores  chamados evangélicos tem sido nefasta para o diálogo democrático no Brasil. Sou uma pessoa que já vivi literalmente na pele o que pode representar a ditadura dita cristã em termos morais. Minha trajetória pessoal o diz.

Esta consciência plena do caráter impositivo enunciado por alguns grupos partilhantes desta religiosidade, entretanto, não pode permitir que se ridicularize a crença de ninguém - Marina aqui como um exemplo mais notório.

Pausa para um parêntese auto-biográfico preciso: sou graduado em História, cuja etimologia leva (segundo alguns pesquisadores) ao conceito grego de olhar, fitar. Sou Mestre em Ciências Sociais, pesquisador. Sou um artista. Canto e sinto a vida a partir do viés da sensibilidade em seu sentido filosófico e prático coincidentes. Sou um homem que sincroniza com a espiritualidade. Feito no Santo, filho de Oxóssi, também convivi alguns anos em contato constante com a Igreja Católica, que me legou a relação com o cristianismo, componente de mim também em existência. Tenho me aproximado do Oriente místico. Sou um artista/cientista em estado de imanência divina.

Sou professor. Trabalho com uma diversidade de pessoas ao longo do meu dia que me faz enxergar a realidade através de um prisma em que o bom senso, a afetividade, a clareza nos julgamentos se faz necessária. Estou longe de ter a balança de Maat e o machado de Xangô, mas muito perto de exercitar princípios de justiça cotidiana. 

Marina Silva não pode ser objeto de risos e escárnio por conjugar na sua elaboração de mundo o criacionismo e a evolução. Este esforço epistemológico que ela parece fazer pode ser considerado positivo, na atual situação em que se encontra; em diálogo com eleitores e população como um todo.

Não alcanço verdades últimas e absolutas de nada nem de ninguém. Vivo sob a condição humana de observância parcial de tudo que é ente. Os enganos são passíveis a todos. E as sensibilidades também são fontes de saber - que o digam Buda ou Aristóteles.

Se Marina Silva fosse praticante de Candomblé ou Umbanda, será que as mesmas “críticas” vozes se levantariam contra, se ouvissem dela que o evolucionismo teria sido uma dádiva de Oxalufan?

Fica a questão.


A propósito e numa derivação pertinente, preciso dizer que este momento conjuntural traz também ventos possíveis de diálogos mais aberto com oficialidades no município de Salvador. 
Os artistas da música iniciando um franco parlatório com a Secretaria Municipal de Cultura. Eu fui, vi, ouvi e gostei.
Evoluções, criações e conjunções são possíveis em movimentos muito complexos.

Ah! Reitero que não estou candidato a nada, antes que os olhares eivados da "deusa" Crítica se lancem sobre meu corpo-mente que sabe de Deus e crê nos fatos de Darwin.

Tudo em estado de Ohm.

Assim.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Aniversário



                                                                               Foto: Rita Tavarez

O dia de aniversário é Celebração.
.

Tenho muito a agradecer nestes 37 anos de vida 

na encarnação atual!

Amor, Amizade, Música, Educação, Sensibilidade, 

Pensamento.

Searas, veredas e campos abertos e desbravados que a vida

me concedeu.

O arco de Odé a possuir minhas mãos e as águas de Oxum

 banhando minha Voz, sob a etérea proteção de Oyá e 

Oxalá.

Hindus, Caboclos e Orientais a semearem pérolas de outros

 tempos e para outros tempos em mim.

Graças a Deus!

Aproveito para agradecer aos amigos, colegas e

 admiradores de meu trabalho que estão vibrando nestas e

 outras tantas
horas com grande afeto.

Assim, o mundo fica mais bonito, mesmo!


Obrigado!

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Flores e Pulsos


A cultura grega vem legando tradições e repasses culturais há muito, na história do Ocidente.

Chamamos de Antiguidade Clássica a este conjunto de elementos que até nós vem chegando e nos constituindo, nesta parte do planeta.

A palavra homo, cujo significado se aproxima de igual, semelhante, tal como, usualmente designa aquilo que é tal e qual, em igualdade.

Ao falar em homo, me vem logo à mente a descrição mental que muitos fazem da homossexualidade, seja masculina ou feminina.

Recentemente vi uma postagem de um conhecido comunicando aos amigos que se entendia gay.
Logo a informação foi publicada, uma "amiga" comenta em tom de felicidade carnavalesca que "não havia problema", que o rapaz  "continuaria sendo a mesma pessoa", e que, enfim: era "bem vinda ao mundo das mulheres"...
Fiquei pensando - curioso - sobre isso.

Qual a associação imediata que as pessoas ditas "normais" fazem entre a homossexualidade e a mudança de sexo?
Por que o rapaz agora passaria a ser ela e não mais o ele, se continua portando o mesmo corpo e identidade sexual de antes?
Por que é tão comum a "brincadeira" que traduz homossexualidade em transição de sexo?

Estas questões, cujas respostas podem ser melhor aprofundadas pelos especialistas em estudos de gênero, sempre me levaram a pensar sobre como ainda não estamos devidamente preparados para a multiplicidade de personas possíveis em termos de condição sexo-afetiva.

É preciso entender - para melhor convivência entre os seres humanos - que não somos maestros que comandam os tons e timbres da existência. No máximo escolhemos batutas para reger nossos particulares caminhares pelo mundo...

O cartunista Laerte, há alguns anos, desafia as noites e dias no eixo Sampa-Rio com sua nova identidade em cross-dressing, assumindo uma presença feminina em traços masculinos transfigurando a nitidez pretensa que separaria os sexos e gêneros.

Nem é preciso dizer o quanto esta particularidade já causou frissons e debates mais sérios e também frívolos sobre o ambiente temático em questão.

Não podemos esquecer que vivemos num mundo latino-americano em que um prefeito de Bogotá há pouco tempo disse que os latinos teriam dificuldade em cuidar do filho de outro homem, referindo-se à não continuidade de obras do político anterior no cargo...

Cuidar do filho de uma mulher que se veste de homem e é casada com um travesti poderia ser demais para certos corações... e mentes... - somente para cutucar onças com chifres de veado...

Fico, de fato pensando que há muita má vontade e uma ignorância vocacionada para abster-se de entendimentos múltiplos, sendo a sexualidade um dos terrenos difíceis para a cognição mais holística.

Não - os gays masculinos não são menos homens e as lésbicas não são homens em corpo feminino.

Sim - a transexualidade é uma realidade e o transgênero é um ser pertencente à possibilidade humana de ser. 

Quando alguém sente desejo por outro alguém e entre estes coincidem os sexos biológicos, não há necessariamente uma associação imediata entre papéis sexuais tradicionais. 

Casais homoafetivos são casais homoafetivos.
Relação homoafetiva é relação homoafetiva.
Se há - nestes casos - correspondências entre ações masculinas e femininas a partie de tipologias comuns é por que as sociedades historicamente constituídas em que vivem os homossexuais muitas vezes exigem em forma de costume e hábito a manutenção de imagens arquetípicas que acabam sendo assumidas pelos indivíduos em jogo. Isso não impede, entretanto, que muitos não joguem o jogo na tabela tradicional. Pode-se fazer outras regras e/ou subverter-se as regras do jogo...

Digo à amiga de meu conhecido que o "saudou " à entrada no "mundo das mulheres" que ela precisa rever o que é pertencimento a gênero.

Ser mulher ou homem é muito mais profundo que ter desejo sexual por um ou outro -  ou os dois, três, quatro e mais gêneros possíveis.
Ser mulher, homem, trans significa estar inserido num quadro referencial psicológico, ético, moral que constitui e ajuda no habitar o mundo, no agir e como agir nas teias e tramas do real vivido. 
Em outras palavras, é manifestação que se percebe e constrói o popular "arriar de malas" que pode - inclusive - revelar uma sexualidade e gênero não condizentes aos padrões estabelecidos. 

Graças aos céus, os outsiders existem!

Nunca tive amigos nem amigas (talvez inimigos não declarados...) que especulassem nem me associassem a algum padrão de comportamento do ponto de vista da sexualidade e do gênero...

Para estes que possam vir, sacarei de pronto as garras de Wolverine e as batas rendadas de richilieu; a voz adocicada que ganhei de Oxum e a expressão de soslaio das matas de outrora incorporadas na psique de mim...

É... muitas vezes somente ser ainda demanda um trançado difícil...

Ave Maria...
Até quando?

Assim, para homos, heteros ou trans, que imperem respeito e sensibilidade!

Sempre!




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