Foto: Adenor Gondim
A Luz é o elemento central.
Ela paira sobre, por fora, em volta e irradia o que é e deve
ser.
O espetáculo Vovó Lulu, criado, produzido e estrelado por
Maria Prado de Oliveira coloca a Luz na nossa frente e nos conduziria ao
questionamento, caso não nos abarcasse de tal maneira com a emoção e com o
estímulo da sensibilidade, tal como faz.
Questionar, sob a inscrição tradicional da razão iluminista
e pouco iluminada, não é suficiente para a fruição de Vovó. Ela nos deixa a
meios caminhos das escolhas; as próprias da vida e aquelas das quais buscamos
fugir por absoluta incapacidade humana de encarar. Mas ela leva ao encontro
destes momentos. Sua fala, seus gestos, sua experiência enquanto ser desta dimensão
e sua disposição para o diálogo não-dual com a Criação fazem dela um dos caminhos
que ela própria se vê colocada por sobre. Três são as vias que aparecem sob a
Luz do palco. Quatro são os vetores, pois não dá para não se sentir atraído pela
proposta que o caminho dela, Vovó, apresenta em si mesma.
Conheço e trago no peito a Atriz/Criadora de Vovó. Vovó e
ela se encontram em idéias e atitudes. Vovó, entretanto, não é Maria. É uma outra das
Marias de nós todos a rogar na canção de Fátima Guedes entoada com langor e
ternura pela senhora inflexiva que nos leva ao lugar reflexivo não
necessariamente preso às teias do racional. Vovó é uma Maria que embala João que
caminha solto no tempo e no espaço a querer entender suas posições. Vovó e
Maria (a autora) são paralelas que se encontram no infinito: na Luz que orienta
Lulu e nós todos, na platéia, por vezes imersos nas possibilidades apresentadas
e sentidas.
Eu choro com Nossa Senhora.
Eu choro com Valsinha, aquela de Chico, o feminino autor
cuja canção ajuda a encerrar o espetáculo.
Aline Moreira (uma menina/mulher/artista/Luluzinha) que é Lulu ontem/hoje internamente, nos banha com movimentos que são a água/ar da alma de Vovó. A alma de Vovó é liquefeita e etérea e Aline baila marcantemente terrena ao pisar no tablado circundado por uma branca mandala de pedras que nos envolve, mesmo olhando-a à distância da platéia.
Aline Moreira (uma menina/mulher/artista/Luluzinha) que é Lulu ontem/hoje internamente, nos banha com movimentos que são a água/ar da alma de Vovó. A alma de Vovó é liquefeita e etérea e Aline baila marcantemente terrena ao pisar no tablado circundado por uma branca mandala de pedras que nos envolve, mesmo olhando-a à distância da platéia.
Ao final, no mundo em paz que Vovó Lulu preconiza e
sintoniza com a Criação (o seu Gente Boa), sua alma e corpo se irmanam e se permitem perceber para nós; espectadores de nós mesmos ali encenados.
Sim: ao final, gostamos tanto de Lulu por que nos identificamos
com seus anseios e ao mesmo tempo nos sentimos distantes dela e de suas
conquistas perante a vida. Ela ri, dança, chora, canta, questiona. – Como amar
o meu país? No meu país há tanta violência! Ali ela apaga instantes da Luz. A
Criação não tem o que dizer ou não diz o que tem...
A Luz retorna!
A Luz retorna!
Ao final, com muito Amor, vamos nos despedindo de
Vovó, que ganha seu presente, afinal. A Luz que recebemos deixa o palco e
começa a lampejar em nós. O Teatro fica interno, endógeno e intrínseco. Ficamos
sendo palco de nossas próprias sombras flamejadas de Luz que podem se transmutar
– como no alvorecer que faz sem sentido a caverna de Platão – em nossa própria
claridade. Isso Vovó faz e fica feito: produz na escuridão uma vontade enorme
de se vestir de uma cor/aura mais clara, mais límpida e mais afeita ao
princípio.
Afinal, que somos
mais, senão luzes de nós mesmos?
Um comentário:
Querido Carlos
Luz é este teu texto, Luz é este diálogo que você, em delicadezas, promove com a nossa Vovó Lulu!...
Muito obrigada! Rumo a novas temporadas!... Que esta senhora possa continuar tocando corações...
Beijo e abraço luminoso em teu peito de artista, em tua voz abençoada, em teu ser brilhante e de imensa sensibilidade...
Maria Prado de Oliveira
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