Cantigas

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Macho, adulto, branco, negro, mulher, gay...




Os debates provocados nas telenovelas normalmente são resultado de abordagens superficiais, que viram mais assunto da ordem do "pitoresco" ao invés de gerar reflexões, de fato, relevantes. A novela Amor à Vida, da TV Globo, por exceção necessária, me trouxe ventos benéficos à sensibilidade e à inteligência.

O personagem Félix - bem construído pelo Walcir Carrasco e soberbamente interpretado por Mateus Solano - chegou ao centro de sua angústia e expressões da mesma quando sua família se depara com a sua homossexualidade na mesa do jantar. 

A esposa (não-traída, posto estar jogando o mesmo jogo social que todos na cena), irritada pelos anos de não-prazer da farsa que vivia consuetudinariamente, revela fotos de carinho e afeto sexual entre Félix e seu amante, que logo se tornam (aos olhos da dificuldade generalizada em conceber dois homens se acarinhando) "provas" do "crime" prévio e julgado que parece ter sido cometido.

A sequencia é forte e promove muitas questões para nossas cabeças e corações ávidos por emoção. 
Félix é uma bomba de frustrações, entre outros fatores, em função da personalidade autoritária e manipuladora de seu pai, cujas aspirações de "macho-adulto-branco-no-comando" não podem admitir que o "varão" possa ser gay... Seu mundo, literalmente, caiu. 

À mãe, irmã, avó e filho do personagem - cuja história parece recomeçar a partir do fato - somente restam se equilibrar entre a surpresa, a dor, e o amor para atravessar a turbulência de entender sua família inserida na possibilidade de revisão de valores, crenças e atos.

A cena dói.

A nós, resta (e sobra motivos para) refletir e observar dentro e ao redor o quanto podemos performatizar Félix, pais autoritários, esposas hipócritas, filhos, irmãos e mães assumindo percepções de mundo enubladas pela convenção de ser convencional e pouco essencial.
Salve a Vida!

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