Cantigas

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Mandinga da Baiana: O samba de Juliana!

                                                               Foto: Divulgação
Juliana Ribeiro é uma dessas vozes que ficam na memória quando escutadas já pela primeira vez.



O timbre de contralto forte e seguro nos leva a pensar nas artistas de antes da Bossa Nova, com seus ataques cheios de espirituosidade e malícia tanto para o amor, quanto para a dor nas canções.



O samba é o estilo que escolheu (ou foi escolhida?) para eternizar-se entre as cantantes brasileiras contemporâneas.



Nascida na Bahia e se colocando no patamar das intérpretes brasileiras de nosso gênero maior, Juliana vem desenhando, ao longo destes anos uma trajetória fincada na exímia capacidade de emocionar a partir de matrizes que estão dispersas na nossa memória coletiva mais profunda: o samba e as raízes desta música que definem o que é o Brasil.
Juliana é isso: brasileira, brasileira e brasileira.
Força e afinco na mistura entre feminilidade e suingue que caracterizam sua performance.



A emissão vocal que traduz uma vontade de ser ouvida e entendida, além da pesquisadora que habita sua persona, fazem de Juliana uma estrela feminina única nesta cena baiana/brasileira.



O seu disco de estreia, um EP com seis faixas cheias de espírito e verdade, traz peças inéditas em que a renovação do samba situa-se ao lado da possibilidade efetivada da releitura.



Aliás, em se tratando de releitura, a faixa
Batuque na cozinha (Martinho da Vila / João da Baiana) talvez seja a que mais revele as qualidades intrínsecas da intérprete Juliana Ribeiro.



Malemolência, malícia, maestria e mandinga formam uma adjetivação aliterativa que expressa sua forma de entoar a cantiga espetacular dos cariocas, na voz da baiana.



Emoldurada por um arranjo simples e eficiente de cordas e percussões, a gravação nos coloca frente à frente com a sensação de estar no meio da roda de samba/batuque/macumba que evoca-se na letra jocosa e cheia de referências a um modo de viver negro-mestiço brasileiro.



Não fosse século XXI, diríamos que a cena ocorre num romance de Álvares de Azevedo, atualizado para um cortiço/bairro popular da Salvador/Rio/Sampa atual.



Juliana e sua voz quente e firme quase nos fazem tremer o corpo e a mente com o "nganga chorando na macumba..." que é inserido na gravação, nos inserindo na cena de numa senzala imaginária e cheia de identificações importantes para nossa compreensão enquanto brasileiros.



Somos descendentes desta quentura provocada e expressa no canto desta baiana.
O arrepio é inevitável ao ouvir o resultado de percussões, violões e vozes a evocar esta brasilidade recuperada na gravação.
O samba de Juliana é o samba de todos nós: estamos dançando com ela e nosso corpo vai no suingue do pandeiro que ela executa como instrumento - quase parte de si mesma. 
Vê-la tocando é muito prazeroso; as mãos se confundem e se fundem ao cantar!



Juliana Ribeiro mostra a que veio, e eu, colega e irmanado com a sua arte, tenho um enorme prazer de fazer parte da geração de cantores que podem dividir o palco e a trajetória com ela.
Estar ao seu lado é sempre estimulante e vê-la no tablado é uma possibilidade de contemplar o talento e a certeza de que a seta aponta para a frente... e rema com fé, estabelecendo um paralelo com as palavras sábias de minha amiga
Aline Tavares.



Juliana; sem tristeza, como você sabe: chora na macumba e faz a gente sorrir de alegria!



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