Cantigas

sábado, 13 de dezembro de 2008

O signo da cidade - a grata surpresa da excelência


Bruna Lombardi e Carlos Alberto Ricelli formam um casal presente nas colunas de celebridades brasileiras há muito tempo.
A atriz e escritora comparece às páginas áudio-visuais como uma atriz de personagens marcados pelo signo da beleza nos folhetins da televisão e seu marido foi por algum tempo galã com ares de cafajeste nos personagens que assumiu.

Bruna e Carlos, ao que parece, resolveram passear por outras telas, outras praias e outros desejos.

O Signo da Cidade é um resultado marcante destes novos andares dos artistas. O filme, roteirizado por Bruna e dirigdo por Ricelli é uma crônica em rizoma sobre a vida de gente comum na mais comum das cidades brasileiras, a São Paulo de hoje.

Com uma história que se compõe de histórias em entrelace (aos moldes de obras como Crash e Babel), o filme traz lirismo, crítica social, ironia, força e sobretudo, um signo de esperança marcando a tonalidade predominante do relato.

O roteiro traz uma condução em que não se perde o interesse nos desfechos e nem na vida daqueles personagens a se encontrarem e desencontrarem - como numa mímese da vida real.
Quando a arte se propõe a este exercício de tocar a vida e capturá-la para dentro de seus limites é preciso que o artífice de tal empresa saiba e possa fazê-lo bem.
Não adianta simplesmente imitar a vida, mas imitar a possibilidade de dar verossimilhança a um mundo criado pelos autores é o meio para atingir esta "realidade" no plano da arte.


Em O Signo da Cidade, o contemporâneo - com sua característica fragmentação e redefinição constante dos sujeitos - é um personagem central, que junto com a cidade de São Paulo, é performer da história, tendo papel definido e decisório para a apreciação da narrativa.

O Signo da Cidade
consegue, então ser atual e profundo; seco e tocante.


Seja o casal em crise, o menino que se sente menina, a astróloga cuja vida se entrelaça com a de todos, o enfermeiro lacônico com a vida ou mesmo a grávida que recusa o destino nefasto do recém-nascido, todos são unidos/separados/dilacerados/reconstruídos pelos dedos do contemporâneo.

Por outro lado, este ser que não é ser e que habita o tempo de hoje como "deus ex-machina" a julgar ações e mediar destinos, tece o linho por baixo da gravura em alto-relevo que é a cidade, seus habitantes e os signos zodiacais que por sobre a Terra, orientam a vida de seres pequenos e de grande complexidade existencial.
Complexos como no filme?
Como na vida?

Como canta Caetano na composição musical de Ricelli/Lombardi a pergunta e a resposta somente podem se referir à solidão na cidade...

Assim, em O Signo da Cidade, nem os astros definem a vida e nem a vida pode superar os astros. Ambos se entrelaçam e se rearrumam constantemente na busca de fazer o dia e a noite se sucederem com menos dor.

Afinal, a arte também possui os seu signos!

3 comentários:

Marlon Marcos disse...

Muito boa a sua reflexão sobre o filme - tô louco pra conferir- e adorei a idéia de que a excelência pode ser uma "grata surpresa". Bela crônica cinematográfica.

Anônimo disse...

Este é o velho Carlos Barros. Adorei o desfecho, onde menciona " Assim, em O Signo da Cidade, nem os astros definem a vida e nem a vida pode superar os astros. Ambos se entrelaçam e se rearrumam constantemente na busca de fazer o dia e a noite se sucederem com menos dor."
Achei isso sua cara. Afinal de contas, para você a dor sempre pareceu menos acentuada do que para os outros, embora sempre intensa. Vou ver o filme, mas fica registrado meus parabéns.

Denise Borges disse...

Texto convidativo suas pontuações desperta de imediato a vontade de assistir o filme, conferir passo a passo a sua narrativa...parabéns mestre vc é um "ser" muito especial tua leitura de mundo é bela...
Abraços!!!

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