Cantigas

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Mais um contra-axé para a Bahia: só mesmo milho branco, acaçá e muita vela!


Recebi esta semana uma mensagem com um link para o you tube de um vídeo que se intitula “Jacaré Iemanjá”
O material, a pretexto de ser engraçado e botar lenha na fogueira das críticas à Axé Music, acabou sendo mais uma reiteração das ofensas produzidas sobre baianos e nordestinos no Brasil.
O material é racista, preconceituoso com a Bahia e sobretudo de mau gosto.
Por que evocar os ícones baianos de forma tão pobre?
Se o Axé trabalha com clichês, o faz por ser uma música de massa, como o é o rock, o pop internacional, o blues, o reggae e todos os gêneros que vêm ao longo do tempo se perpetuando nas suas praias e nos seus mercados, como os de peixe, ou de sabonetes.

É preciso, talvez, buscar a origem deste material para dizer ao idiota que o construiu que o axé, ou o pagode, a música sertaneja, o funk devem ter seu espaço na medida em que existam consumidores para esta música. E não falo apenas do consumo que provém dos bolsos, ligado à capacidade de compra.
Falo do consumo espiritual que está ligado ao prazer de ouvir, dançar e se exaurir física e mentalmente com o fenômeno cultural que é a música. Afinal, entre Mozart e Xanddy há diferenças que se irmanam na capacidade de produzir sensações, sejam elas quais forem, desde que não atentem contra a integridade humana, único valor inquestionável, e que abarca tantos outros.

Ao contrário do que afirma o "tema" deste áudio-visual, um "bom axé" se faz com bons baianos e sobretudo bons espíritos na face da Terra.

Quem são estas pessoas? Alguns brasileiros que não toleram que a efervescência baiana seja tamanha a ponto de poder produzir discursos simples que se ratificam como legítimos (e o são mesmo?)

É preciso ter muito cuidado com a falácia do "bom gostismo" musical (e olhe que eu sou um artista baiano relativamente distante da seara do axé) , pois ele mascara (muito mal, diga-se de passagem) preconceitos e estereótipos que vêm desde Machado de Assis, que no século XIX execrava as baianas na Praça Onze, ou Millôr Fernandes, que chamava os baianos de bárbaros invadindo a praia de Ipanema na zona sul do Rio.
Sou um baiano do axé, do dendê, da pemba e do EBÓ, sobretudo do EBÓ, e digo aos realizadores deste material que Iemanjá tem, de fato, muito haver com o Jacaré, o dancarino baiano que foi para o Rio viver de arte industrial, como muitos no Brasil a exmplo de Ari Barroso, Luiz Gonzaga, Elis Regina e tantos outros que sao mercadorias do mesmo modo nas prateleiras das lojas especializadas.

Jacaré, certamente, tem a proteção e o AXÉ de Iemanjá, que cuida de sua cabeça para conviver com questões como esta, do "lugar" reservado aos baianos num cenário midiático tão pobre de referências profundas sobre a Bahia e muitas outras partes do Brasil.

Não façamos o discurso xenófobo, pois nos é muito fácil, daqui da Bahia, fazer o mesmo... mas não estamos acostumados a isso... Desde a colônia, somos a cidade aberta dos relatos de Vieira, da música de Saul Barbosa e vozes da voz da música do Brasil.

Nao me cabe, nem a estes sujeitos de tal obra ridícula (o filme sim, de um primarismo brutal!) julgar nem determinar o bom gosto, principalmente se utilizando de tamanha falta de entendimento do universo cultural baiano que é base do que se convencionou chamar axé music.

E no mais, respeitem os Orixás, os negros e os baianos pois pelo amor de Deus, não vê que isso é pecado - desprezar quem lhe quer bem? E a Bahia sempre deu ao Brasil um bem querer, que talvez algumas pessoas neste país nem possam conceber o quanto.

Portanto, aos que não gostam de Axé (de nehuma natureza e espécie), esqueçam a Bahia, pois é mais fácil esquecer a Bahia que lembrar de gente torpe como dessa cepa nefasta, pobre e podre.


Carlos Barros, 16 de dezembro de 2008.

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