Pensando sobre política e cultura
e religião e afins, me vi deparado nesta terça-feira 22 de outubro e um dia
após ter completado 37 anos de vida, com alguns fatos e versões que me fazem
ter que pôr a mente (e a alma) a trabalhar.
Não sei ainda se votarei em Marina
Silva (embora seja uma opção válida entre as poucas cartas na manga) nem pleiteio cargos
políticos e/ou similares. Escrevo por que penso ser necessária uma reflexão breve a respeito de
posturas e atitudes tipificadas como "críticas" que volta e meia são
veiculadas por artistas, intelectuais, e alguns menos informados.
No mundo da internet tudo
se veicula e tudo se diz sem cuidados necessários à convivência humana pautada
na delicadeza. Neste universo em si e em nós (clamando a herança kantiana) vi uma postagem que ironizava a frase dita pela professora
Marina Silva sobre o fato dela crer que Deus teria permitido que a lei da Evolução
fosse criada.
Entre a irônica intenção da
postagem sobre Marina e os comentários de teor risível, fiquei pensando qual o
problema da sua afirmação de cunho teológico/filosófico, me colocando sob ângulos diversos e úteis para uma análise
prudente e equilibrada.
Marina Silva é uma mulher sabidamente
religiosa. De uma denominação evangélica, nunca escondeu de ninguém suas
convicções.
Assisti a sua entrevista no
programa de Jô Soares e gostei de sua fala, de sua ponderação e da maneira
tranquila e segura como falou sobre Deus e Evolucionismo.
Gosto de ouvir e sentir como as
pessoas públicas se portam diante de questionamentos vários e - sinceramente -
Marina Silva não me suscitou comichões políticos ou desconfianças profundas.
O benefício da dúvida que
caracteriza qualquer apreciação a respeito da realidade empírica vale para
Marina e para qualquer ser da matéria, mas sem neuras e ranços de diversas
ordens.
O que sinto e percebo como
elemento que se entrepõe no debate a respeito desta senhora nada mais é que
algo contra o qual a maioria das vozes que se auto intitulam
"críticas" levantam-se em inflamados discursos regados a expressões
aprendidas em sociologia espontânea ou mesmo acadêmica: o
preconceito.
Bem sei o quanto uma certa
hegemonia em termos de mentalidade ligada a alguns setores chamados evangélicos tem sido nefasta para o
diálogo democrático no Brasil. Sou uma pessoa que já vivi literalmente na pele
o que pode representar a ditadura dita cristã em termos morais. Minha
trajetória pessoal o diz.
Esta consciência plena do
caráter impositivo enunciado por alguns grupos partilhantes desta religiosidade, entretanto, não
pode permitir que se ridicularize a crença de ninguém - Marina aqui como um
exemplo mais notório.
Pausa para um parêntese auto-biográfico preciso: sou
graduado em História, cuja etimologia leva (segundo alguns pesquisadores) ao
conceito grego de olhar, fitar. Sou Mestre em Ciências Sociais, pesquisador. Sou um artista. Canto e sinto a
vida a partir do viés da sensibilidade em seu sentido filosófico e prático
coincidentes. Sou um homem que sincroniza com a espiritualidade. Feito no
Santo, filho de Oxóssi, também convivi alguns anos em contato constante com a
Igreja Católica, que me legou a relação com o cristianismo, componente de mim também em existência. Tenho me aproximado do Oriente místico. Sou um artista/cientista
em estado de imanência divina.
Sou professor. Trabalho com uma
diversidade de pessoas ao longo do meu dia que me faz enxergar a realidade
através de um prisma em que o bom senso, a afetividade, a clareza nos
julgamentos se faz necessária. Estou longe de ter a balança de Maat e o machado
de Xangô, mas muito perto de exercitar princípios de justiça cotidiana.
Marina Silva não pode ser objeto
de risos e escárnio por conjugar na sua elaboração de mundo o criacionismo e a
evolução. Este esforço epistemológico que ela parece fazer pode ser considerado
positivo, na atual situação em que se encontra; em diálogo com eleitores e
população como um todo.
Não alcanço verdades últimas e
absolutas de nada nem de ninguém. Vivo sob a condição humana de observância
parcial de tudo que é ente. Os enganos são passíveis a todos. E as
sensibilidades também são fontes de saber - que o digam Buda ou Aristóteles.
Se Marina Silva fosse praticante
de Candomblé ou Umbanda, será que as mesmas “críticas” vozes se levantariam
contra, se ouvissem dela que o evolucionismo teria sido uma dádiva de Oxalufan?
Fica a questão.
A propósito e numa derivação
pertinente, preciso dizer que este momento conjuntural traz também ventos possíveis de diálogos mais aberto com
oficialidades no município de Salvador.
Os artistas da música iniciando um
franco parlatório com a Secretaria Municipal de Cultura. Eu fui, vi, ouvi e
gostei.
Evoluções, criações e conjunções são possíveis em movimentos muito complexos.
Ah! Reitero que não estou candidato a nada,
antes que os olhares eivados da "deusa" Crítica se lancem sobre meu corpo-mente
que sabe de Deus e crê nos fatos de Darwin.
Tudo em estado de Ohm.
Assim.