quinta-feira, 3 de outubro de 2013
Flores e Pulsos
A cultura grega vem legando tradições e repasses culturais há muito, na história do Ocidente.
Chamamos de Antiguidade Clássica a este conjunto de elementos que até nós vem chegando e nos constituindo, nesta parte do planeta.
A palavra homo, cujo significado se aproxima de igual, semelhante, tal como, usualmente designa aquilo que é tal e qual, em igualdade.
Ao falar em homo, me vem logo à mente a descrição mental que muitos fazem da homossexualidade, seja masculina ou feminina.
Recentemente vi uma postagem de um conhecido comunicando aos amigos que se entendia gay.
Logo a informação foi publicada, uma "amiga" comenta em tom de felicidade carnavalesca que "não havia problema", que o rapaz "continuaria sendo a mesma pessoa", e que, enfim: era "bem vinda ao mundo das mulheres"...
Fiquei pensando - curioso - sobre isso.
Qual a associação imediata que as pessoas ditas "normais" fazem entre a homossexualidade e a mudança de sexo?
Por que o rapaz agora passaria a ser ela e não mais o ele, se continua portando o mesmo corpo e identidade sexual de antes?
Por que é tão comum a "brincadeira" que traduz homossexualidade em transição de sexo?
Estas questões, cujas respostas podem ser melhor aprofundadas pelos especialistas em estudos de gênero, sempre me levaram a pensar sobre como ainda não estamos devidamente preparados para a multiplicidade de personas possíveis em termos de condição sexo-afetiva.
É preciso entender - para melhor convivência entre os seres humanos - que não somos maestros que comandam os tons e timbres da existência. No máximo escolhemos batutas para reger nossos particulares caminhares pelo mundo...
O cartunista Laerte, há alguns anos, desafia as noites e dias no eixo Sampa-Rio com sua nova identidade em cross-dressing, assumindo uma presença feminina em traços masculinos transfigurando a nitidez pretensa que separaria os sexos e gêneros.
Nem é preciso dizer o quanto esta particularidade já causou frissons e debates mais sérios e também frívolos sobre o ambiente temático em questão.
Não podemos esquecer que vivemos num mundo latino-americano em que um prefeito de Bogotá há pouco tempo disse que os latinos teriam dificuldade em cuidar do filho de outro homem, referindo-se à não continuidade de obras do político anterior no cargo...
Cuidar do filho de uma mulher que se veste de homem e é casada com um travesti poderia ser demais para certos corações... e mentes... - somente para cutucar onças com chifres de veado...
Fico, de fato pensando que há muita má vontade e uma ignorância vocacionada para abster-se de entendimentos múltiplos, sendo a sexualidade um dos terrenos difíceis para a cognição mais holística.
Não - os gays masculinos não são menos homens e as lésbicas não são homens em corpo feminino.
Sim - a transexualidade é uma realidade e o transgênero é um ser pertencente à possibilidade humana de ser.
Quando alguém sente desejo por outro alguém e entre estes coincidem os sexos biológicos, não há necessariamente uma associação imediata entre papéis sexuais tradicionais.
Casais homoafetivos são casais homoafetivos.
Relação homoafetiva é relação homoafetiva.
Se há - nestes casos - correspondências entre ações masculinas e femininas a partie de tipologias comuns é por que as sociedades historicamente constituídas em que vivem os homossexuais muitas vezes exigem em forma de costume e hábito a manutenção de imagens arquetípicas que acabam sendo assumidas pelos indivíduos em jogo. Isso não impede, entretanto, que muitos não joguem o jogo na tabela tradicional. Pode-se fazer outras regras e/ou subverter-se as regras do jogo...
Digo à amiga de meu conhecido que o "saudou " à entrada no "mundo das mulheres" que ela precisa rever o que é pertencimento a gênero.
Ser mulher ou homem é muito mais profundo que ter desejo sexual por um ou outro - ou os dois, três, quatro e mais gêneros possíveis.
Ser mulher, homem, trans significa estar inserido num quadro referencial psicológico, ético, moral que constitui e ajuda no habitar o mundo, no agir e como agir nas teias e tramas do real vivido.
Em outras palavras, é manifestação que se percebe e constrói o popular "arriar de malas" que pode - inclusive - revelar uma sexualidade e gênero não condizentes aos padrões estabelecidos.
Graças aos céus, os outsiders existem!
Nunca tive amigos nem amigas (talvez inimigos não declarados...) que especulassem nem me associassem a algum padrão de comportamento do ponto de vista da sexualidade e do gênero...
Para estes que possam vir, sacarei de pronto as garras de Wolverine e as batas rendadas de richilieu; a voz adocicada que ganhei de Oxum e a expressão de soslaio das matas de outrora incorporadas na psique de mim...
É... muitas vezes somente ser ainda demanda um trançado difícil...
Ave Maria...
Até quando?
Assim, para homos, heteros ou trans, que imperem respeito e sensibilidade!
Sempre!
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