Cantigas

terça-feira, 18 de junho de 2013

Manifesto





Sei que as manifestações políticas são necessárias e também tenho muitas (e muitas mesmo) ressalvas a qualquer tipo de truculência e agressão, sobretudo quando ultrapassam e atingem o físico e o material. O Estado Brasileiro precisa perceber que não somos idiotas inertes (embora, no momento do voto continuemos, de fato, iludindo-nos com falsas promessas) e que não dá para suportar tantos desmandos políticos. 

Vimos de um momento particularmente delicado, pois a histórica "esquerda" brasileira assumiu o poder e passou a governar a partir de métodos muito parecidos com os d'antes acusados de "forma da direita de governar" e outras expressões mais embasadas em teorias alemãs várias... Eu venho de origem pobre. Sou um homem financeiramente pobre e a realidade da minha vida nem de longe poderia me fazer achar que o país vai bem. Sei também que não vai melhor (a Turquia, o Egito, o Oriente Médio inteiro, aliás são prova disso) com bombas (nem de gás lacrimogêneo nem coquetéis molotovs) explodindo e balas de borracha sangrando as pessoas. 

Tenho buscado entrar em outra possibilidade de mudança, em que o contato diário e cotidiano possa me fazer ser político no sentido mais amplo e complexo do termo. Tenho um histórico (desde a Escola, inclusive) de muitas lutas diárias para chegar em objetivos alcançados e outros ainda a alcançar, enquanto vida aqui tiver. 

Tenho também um histórico de ter sido chamado e tratado por muitos ao longo do tempo como um "alienado político" e/ou alguém que não tem "senso de coletividade", o que já me afetou e agrediu algumas vezes. Hoje, não me afeta mais... e esta é a evolução política interna de que precisei na vida e que me faz ponderar inclusive a minha opinião objetiva sobre as manifestações que vêm ocorrendo neste inverno brasileiro de 2013.

As Redes de TV têm interesses muito grandes na "paz sem voz" do país e muitos "manifestantes" também são despossuídos (estou querendo crer nisso) de sensos vários da temperança necessária para enfrentar os desafios políticos. Não sou especialista em passeatas e manifestações, mas bem observo o quanto aquilo que - grosso modo - pode ser chamado de "massa" funciona para interesses diversos; dos mais límpidos, aos mais turvos... O que sei é que me interessa positivamente ver as vias públicas recheadas de gente como eu - sujeitos, cidadãos, pessoas, seja lá que termo melhor designe - clamando por respeito, que está em falta. Também não me sinto à vontade para sair às ruas e estar disponível a qualquer atitude que considero violenta, mesmo que o objetivo seja nobre. Não sou adepto da máxima de que "os fins justificam os meios". 

Fui um adolescente e jovem extremamente irascível. Isso me compôs durante grande parte da vida. Sou um homem beirando a meia idade com menor grau de raiva contida e, ainda assim, alguém nitidamente comprometido com as evoluções humanas, sobretudo aquelas que ocorrem fora das passeatas e sem o selo garantido do poder constituído, que tanto interessa a todos os movimentos políticos ao longo da história. 

As lutas que encampo vêm por outros caminhos e isso, sem ser violento, mas contundente, tenho que exigir que se respeite. Ir à rua é uma estratégia atemporal e ao mesmo tempo inscrita na história da humanidade neste pedaço Ocidente/Oriente ocidentalizado do mundo. Isso me comove. 

Sangue no chão, lágrimas de horror, balas de borracha, metal e afins e bombas de qualquer natureza ainda me causam estremecimentos de alma e corpo pelos horrores dos quais não gosto e nos quais não acredito como válidos para o caminhar humano. Entendo sua existência, mas opto por não aderir a estes entes. 

Sou um homem de espadas, espelhos, arcos, flechas e armas de todo tipo - no plano mais etéreo da espiritualidade. O simples som disso tudo na materialidade da vida comum me assusta e nada é capaz de me fazer envergonhar em assumir. Aqui, aparece a criança que ainda guardo em mim e que sempre teve arrepios ruins ao ouvir qualquer som mais alto proferido da boca de um adulto. E, sinceramente, quero que esta criança nunca deixe de habitar e atuar dentro. 

Quanto ao mundo,
que os dados rolem e os deuses abençoem.

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