Cantigas

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Cores e Nomes de moças em rapazes coloridos e pretos no branco


A questão é a seguinte:
Não dá mais pra segurar e o coração explode mesmo!
No Brasil que celebra Obama (eu também celebro), a cerebralização tropical impede outras cores de soarem nas íris cotidianas das cidades como a nossa São Salvador do preto mulato e do branco doutor (e hetero).

O ônibus sai da estação e o rapaz de cores indefinidas e gorro branco é lido - e acusado de - "afeminado".
E o que é isso mesmo?
Aconteceu, não virou manchete, mas azedou a doçura da minha alma rósea, amarela e branquinha, branquinha de Oxum e Oxalá.

Por que a cidade da beleza tropical, da negritude celebrada e dos evangelhos a insurgirem-se contra o contemporâneo não consegue conviver em paz com a presença diversa dos gays e afins?

Fica a questão a tilintar na minha cabeça por vezes rosa e por vezes (muitas vezes) vermelha de raiva: como o olhar da profundidade de uma colher pode ser tônica para a averiguação e julgamento do que sou e mesmo pareço?

A homossexualidade e a heterossexualidade são dísticos da mesma moeda. A minha moeda é um dólar tão evidente que nem preciso me achar um real!
O corpo ainda é pouco e o pulso pulsa mais forte ao ver a bunda e os pêlos de um rapaz.
O coração bate mais forte ao sentir a cantada da moça que sorri e olha faceira, medindo tamanhos e curvas de meu corpo.
O que meu corpo responde?
Somente toda moça em todo rapaz pode dizer!

Não me ponho amarras e grades de fina educação: o problema é que há gays "baixo-astral".
O astral dos gays não quer dizer nada frente ao astral nebuloso das cabeças (profundas como uma colher) de quem acena com a possibilidade de alijar alguém da cena por falar muito alto ou quebrar o corpo, desafiando a lei da gravidade.

O cara no ônibus que me insultou- a mim e a tudo que eu quis como os olhinhos infantis que me olharam nesta noite e me encheram de prazer - não sabia que ali estava não somente o que ele chamava de "afeminado", mas uma proposição de homem muito mais efetiva que aquele arremedo de macho com os colhões tão fortes quanto os dos celenterados (que nem mesmo possuem escroto...)

A Bahia é a estação primeira de um Brasil que precisa cair de posição no ranking de agressões aos gays. Ainda está entre as primeiras nas ignorâncias e no cultivo das mesmas ignorâncias; sensível e cerebral no assunto.

Não, ele não vai mais dobrar, pode e deve se acostumar comigo e com todos aqueles que vivem nos ônibus, carros, albergues, banheiros, faróis, casas, apartamentos, escolas, fóruns, academias, palcos, bibliotecas, salões de carro, de beleza e de dança.

Os corretores de imóveis no céu poderiam arrumar lugar logo para os que não nos toleram, nós que aqui estamos, sempre a esperar a felicidade e a plenitude do olhar. Não quero sugar todo teu leite, interlocutor, mas quebro a quarta parede para te perguntar:


você também não agüenta sentir o ar de uma bicha?

2 comentários:

VAMBER disse...

um soco no estomago tdo isso.
Luz e paz.

Ivone Maia de Mello disse...

trago em mim
todos os preconceitos
e todas as dores sofridas por causa deles
e toda revolta e todo rancor
e ainda assim, forte como tudo
esse mesmo amor que acolhe
e contradiz
tudo que sou e sinto

besos,
cariño.

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