Cantigas

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Eu

Senhores: sou um Cantante!

Um construto do tempo na aparência de um fauno que, na vida: vive!
Minha existência está condicionada ao ato de emitir sons nas palavras e palavras nas melodias: sou um cancionista.

Minha afinação está para a estrada como o trem para o trilho: seus possíveis descarrilhos se dão mais pelo movimento que pelo desacerto.

Sim, canto e posso, assim, entoar o Brasil, o amor, a dor e a agonia!
Posso fazer chorar, rir, desprezar, atentar e SER.
E eu sou!

Faço o caminho, estabeleço a rota e arrumo o desalinhado: os ouvidos que a mim se colocam vibram ou estão a querer escutar-me.

Eu sou o brilho de uma alma que, inquieta, busca-se a si mesmo na canção!

Sim, senhores: não sou um matemático, um astrofísico ou um arquiteto, sobretudo da atividade artística.

Apenas arquiteto o que quero fazer da voz na palavra: sendo, então um palavrista musical.
Não tenho talento para a matemática superior da música.
Componho com as demais canções, composições mais amplas e intermináveis: a matéria de meu canto é a negação da morte.

Não tenho medo da morte, mas da vida... hum!

Sou um colega errante e errático daqueles que fazem da arte sua droga: sou um viciado, quase dependente completo da química do palco: estúdio; banheiro: panela.
Eu venho do mínimo e caminho em direção ao máximo.

Se irei até o fim?
O fim não existirá: e eu resistirei às barreiras para pular: como disse o verdadeiro poeta...

Não sou o construtor de trinados agudos que ditam as regras da canção;
Ah! bahia: você já foi mais criativa na seu mísero ditado da farinha míngua...

Eu quero é mel: psicografando Gil que psicografou Melodia.

Eu quero é Zizi na garganta, Bethânia no corpo, Gal na voz e Daniela (ah! daniela), ela que me impulsiona!

Eu quero é Oyá por nós!

E eu, assim, vagabundo na minha excelência: rei na minha itinerância e filho do senhor absoluto da riqueza peço a Deus LUZ para a escuridão e Força para a fraqueza matemática das divas frias e calculistas da beleza emprestada às pautas fixas!

Sou um artista da forma imprecisa que se adorna na matemática primária de quem precisa saber contar para catar as energias de estar!

Sou eu quem faz arrepiar e precisar ouvir de novo: sem cálculos de quiálteras e sustenidos que não ficam no ar: somem na vastidão desprezível da pura engenharia exata da música mínima(lista)mente sem cor.

Eu canto o que quero e me dou a quem quero: me dou em eterna filiação: sou eu quem chega e ao chegar, pessoa em soberania, sempre: desfaço o quesito pré-determinado do júri e aqueço a emoção da plateia.

Eu sou Mangueira em toda a avenida!
Eu sou o Gandhi no carnaval da cidade!
Eu sou o grito de Gita no meu futuro:
Sou o melhor profeta de mim mesmo!

Estou à mercê daquilo que os outros chamam destino.
Eu destino-me ao que quero: e choro, humanamente quando não o tenho!

Eu, Diva não-matemática que rascunha a voz na tentativa do acerto e acerto no alvo, faço as palavras soarem como iniciante veterano da canção.

Por que?

Por que ela - a VOZ - me é antes de mim.
Quando eu nem... Oxum é!

A vida é um espetáculo.
Eu sou o ator de meu espetáculo privado e publico isso!

Na minha errante matemática de sons que acertam corações muitos pelo mundo, posso dizer, sem cerimônias de cientista da arte ou de artista cartesiano:

Senhoras:

Sou um CANTOR!

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