Cantigas

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Para não dizer que não falei...



Para não dizer que não falei de política...


O Brasil é um curioso país:  meu país, minha nação, onde nasci.


Esta semana, o Brasil colocará no poder alguém entre dois projetos dissonantes e que, juntos, não resultam num belo acorde de bossa nova.


Nada mais similar que a briga de poder e nada mais díspar que a relação entre as propostas aqui apresentadas.


Minha empatia não flui naturalmente para nenhum dos lados.
Minha confiança oscila numa balança sutilmente desregulada, por não entender o diapasão que rege  esta orquestra foucaultiana...


Sim, sei bem que não serei alguém, como diria Pessoa, mas sei bem que entre Dilma e Serra há dois Brasis bem distintos: e eu não prefiro o segundo.


José Serra apresenta como opção uma brasilidade de sotaque bem definido, de etnia bem demarcada, de bolsos bem assumidos:
e que não me representam...


Dilma Roussef traz um ideário já em andamento.
Ela, gaúcha que disse que os nordestinos migram para o Brasil (sic) também governará para um país cuja minha pertença não é muito segura...
A Bahia que o diga (seus precedentes já me foram muito sentidos, na minha pele escura/clara  e caymmiana de preto/mulato/doutor).


Acontece que o projeto Dilma (diga-se de passagem, o projeto pernambucano/paulista operário de Lula) certamente aponta para continuidades que, se não resolvem os problemas mais profundos desta nação, direcionam ajustes no mínimo necessários, seja para cariocas, piauienses, curitibanos ou emsmo baianos, já escaldados com caldos de estrela branca enfiada em pau forte.... 


Não dá para aguentar a retórica serrista contra cotas, bolsas assistenciais, aumento do fluxo de pobres nos aviões, como sai da boca de uma média (ocre) classe brasileira que aprendeu a defender projetos conservadores desde a época dos liquidificadores, enceradeiras e batedeiras elétricas do "milagre" de 1973.


Minha pertença a um tipo de média classe, por ser acadêmico de formação (sic) não me permite pensar o país a partir das xerox de textos utilizados nas salas de aula das universidades como se com eles somente, fosse possível resolver questões práticas, sentidas por pessoas, que como eu, nasceram pobres e vivem ainda hoje em condições que, não fosse a fé que costuma acompanhar, seriam apenas estatísticas ainda piores que as atuais.


Fiquei pensando em escrever sobre os boatos a respeito de Dilma, os comentários de sua inexperiência, as maledicências (ou boas notícias) que sugerem até homossexualidade...
Desisti...
Ai meu Deus, como eu queria, que Zumbi tivesse mesmo sido gay...


Confesso!
Este texto, na verdade, surgiu da minha lembrança de uma canção que há muito me impressiona, menos pelos personagens em questão e mais pelo conteúdo que, apesar de referir-se a um fato do final dos anos oitenta, ainda é bastante atual:


Pode, Waldir?

           Gilberto Gil



Pra prefeito, não

Pra prefeito, não

E pra vereador:

Pode, Waldir? Pode, Waldir? Pode, Waldir?

Prefeito ainda não pode porque é cargo de chefia

E na cidade da Bahia

Chefe!, chefe tem que ser dos tais

Senhores professores, magistrados

Abastados, ilustrados, delegados

Ou apenas senhores feudais

Para um poeta ainda é cedo, ele tem medo

Que o poeta venha pôr mais lenha

Na fogueira de São João

Se é poeta, veta!

Se é poeta, corta!

Se é poeta, fora!

Se é poeta, nunca!

Se é poeta, não!

O argumento é que o momento é delicado

E prum pecado desse tipo

Pode não haver perdão

Mudança é arriscado, muda-se o palavreado

Mas o indicado

Isso ele não muda, não

O indicado deve ser do tipo moderado

Com um mofo do passado

Peça do status quo

Se é poeta, veta!

Se é poeta, corta!

Se é poeta, fora!

Se é poeta, nunca!

Se é poeta... oh!

O certo poderia ser o voto no Zelberto

Mas examinando mais de perto

Ele tem que duvidar

A dúvida de que a Bahia tenha um dia tido a primazia

De nos dar folia

De nos afrocivilizar

Pra ele civilização é a França que balança

No seu peito de homem direito

Homem de jeito sutil

Se é poeta, veta!

Se é poeta, corta!

Se é poeta, fora!

Se é poeta, nunca!

Se o poeta é Gil!

Pra prefeito, não

Pra prefeito, não

E pra vereador:

Pode, Waldir? Pode, Waldir? Pode, Waldir?






E aí ?
Em se tratando de um voto um pouquinho melhor,


PODE, BRASIL?




P.S. 1 Para ouvir a canção basta acessar http://www.gilbertogil.com.br/
P.S. 2 Meu primeiro turno teria sido de Marina Silva

































































Nenhum comentário:

Total de visualizações de página