Cantigas

quarta-feira, 11 de março de 2009

Sob medida para uma filha da Bahia


Em finais dos anos setenta, a Bahia ganhou uma filha ilustre: chegada no Brasil do longínquo e belo Pará, aportou nas ondas sonoras a falar da Bahia uma mulher linda, grande e de voz forte, rodando no palco e nos ventos da vida.

O nome Fafá vinha acompanhado de uma certa adverbiação de lugar, para sabermos que era de Belém.

Este nome de cidade, que é também da região onde viveu Cristo da Galiléia,além de render para nós a filosofia mais popular no mundo, nos deu a voz e a presença (muito física) de Fafá de Belém.

Esta cantora traz no seu sangue (português-indígena) e na sua verve artística uma vontade manifesta de ser e estar. Dois verbos importantes por que vitais, como seu canto.

Fafá não canta somente. Faz-nos entrar em seu mundo onde a quentura das letras se irmana à doçura/agrura/mistura das melodias. Seja no Tamba Tajá que remonta à origem de infância ou na interpretação de um Buarque Sob Medida (ninguém interpreta a personagem da canção melhor que Fafá na performance musical deste hino brasileiro), a cantora brasileiríssima mostra que a nossa história de música popular tem muitas páginas de surpresas.

Quem há de negar que o canto de Fafá é maior do que suporta a sua garganta? Por que fisicamente parece que seu corpo guarda uma essência maior do cantar/interpretar que na hora da canção parece querer saltar do ambiente meramente musical para tomar a cantora e ouvintes pelo exagero que é, de fato, uma compreensão/constatação de que a vida nos é por demais exagerada em suas manifestações de prazer, amor, dor e fissuras?

Fafá traz tudo isso em doses não muito controladas.

Seus agudos entre afinadíssimos e quase gritados - para chegar bem aos nossos ouvidos - são expressões de um canto brasileiro que saiu da floresta e talvez tenha passeado nas caravelas a levar pau-brasil e especiarias para além-mar, de onde veio, também a tradição de fados tão bem personificados pela cantora de corpo farto e belo, de tez morena do Brasil com boca e face européia.

Fafá subverte a lusitanidade de sua pessoa com a indigenidade africanizada de ter sido alavancada com a canção Filho da Bahia do baiano Walter Queiroz.

É! Fafá redescobre o Brasil – e tinha mesmo que começar pela Bahia!

O repertório por vezes mutante (que foi também ao cancioneiro de compositores chamados de popularescos) precisava chegar a recônditos universos que outras artistas não tiveram coragem nem competência para entrar.
Ninguém pode fazer nuvens de lágrimas sertanejas cair sobre as cabeças boêmias de fins de noite e de amores perdidos na bruma da existência com elegância/extremismo/vigor!

Ninguém? Fafá pode. Fafá fez. Isso é Fafá.

Estou abreviando o que nem pode ser abreviado.
É Fafá de Belém!
Ela mesma disse que quando assinou Fafá, os fãs reclamaram.
Pois é, moça faceira: você não pode assinar tão somente Fafá. Pois, em sendo isso tudo que é como Fafá, o epíteto não pode deixar de estar!
Seja Estrela!
Seja Belém!

Fafá é o brilho de um Brasil de povo, de caminhão, de porto, de mares fora e dentro de nós. Navega-se com sentimentos fortes, rubros, duplos, calorosos, arrancados de dentro de nossa alma, nos levando a ver o que não gostamos em nosso ser - nosso e tão belamente cafona, das Cafonices da canção de Eduardo Alves, que estou gravando no meu disco.

Fafá é chique, elegante e refinada em sendo uma de nossas cantoras mais populares – no sentido mais visceral desta palavra.

Fafá é o nosso país de uma forma muito intensa, e eu amo o nosso país de forma intensa por que - não estando exatamente neles - eu me sinto conectado com universos particulares trazidos pelo canto e pela existência desta cantora tão importante para este lócus verde, amarelo e vermelho.

Vermelho da canção de Fafá, da bandeira de Portugal e da cor mais visível ao olharmos para esta mulher.

Fafá, então seja o vermelho da bandeira do Brasil.

Você sabe melhor que ninguém!

4 comentários:

Anônimo disse...

Carlos parabéns pela excelente descrição de nossa estrela de BeléM.Fafá é exatamente isso essa Pororoca de emoção .Vou por esse blog nos meus favoritos.

Érica disse...

Carlos, adorei o texto.
Parabéns!!!
Estou repassando o link para todos os fãs e também para a Fafá e sua equipe.
Fafá merece sempre ser descrita e lida.
Abraços

Horácio Silva disse...

Parabéns rapaz!
O texto descreve com precisão o talento de Fafá.
Depois disso cabe uma pergunta: porque tantos "entendidos" em música preferem ignorá-la?

Tcheris Lorrane disse...

PARABÉNS pelo lindo texto e descrição da DIVÔNICA Fafá ♥

Beijooos

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